Fala também tu,/ fala em último lugar,/ diz a tua sentença./ / Fala —/ Mas não separes o Não do Sim./ Dá à tua sentença igualmente o sentido:/ dá-lhe a sombra./ / Dá-lhe sombra bastante,/ dá-lhe tant...
Coração inconstante, a quem a charneca edifica a cidade/ no meio das velas e das horas,/ tu sobes/ com os choupos até aos lagos:/ aí talha a flauta, de noite,/ o amigo do seu silêncio/ e mostra-o às ...
Na fonte dos teus olhos/ vivem os fios dos pescadores do lago da loucura./ Na fonte dos teus olhos/ o mar cumpre a sua promessa./ / Aqui, coração/ que andou entre os homens, arranco/ do corpo as vest...
Poema
Paul CelanAlemanha1920 // 1970Poeta
OlhosOlhos: brilhantes da chuva que caiu quando Deus me mandou beber.
Olhos: ouro, que a noite me contou nas mãos, quando colhi urtigas e fiz arrepender as sombras dos Provérbios.
Olhos: noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes saltei pelos lugares da eternidade.
Paul Celan, in "Papoila e Memória" Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
SolidãoA solidão é como uma chuva. Ergue-se do mar ao encontro das noites; de planícies distantes e remotas sobe ao céu, que sempre a guarda. E do céu tomba sobre a cidade.
Cai como chuva nas horas ambíguas, quando todas as vielas se voltam para a manhã e quando os corpos, que nada encontraram, desiludidos e tristes se separam; e quando aqueles que se odeiam têm de dormir juntos na mesma cama:
então, a solidão vai com os rios... Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens" Tradução de Maria João Costa Pereira