sexta-feira, 4 de julho de 2025

 

Fredric Jameson, modernismo e a desprovincianização do marxismo

Foto: Wikimedia Commons

Por Bruna Della Torre

Pode-se de fato concordar que uma crítica marxista que não tenha nada a dizer sobre a luta de classes ou sobre a natureza do capitalismo dificilmente acabará tendo algo de verdadeiramente marxista. Mas tais considerações nem sempre assumem a forma que se poderia esperar…
Inventions of a Present, Fredric Jameson 

Devemos em larga medida a Fredric Jameson a maneira como periodizamos a segunda metade do século XX. Talvez se estenda para o tempo aquilo que Joan Didion afirmou sobre o espaço, quer dizer, que “um lugar pertence para sempre àquele que mais intensamente o reivindica, que mais obsessivamente o recorda, que o arranca de si mesmo, que o molda, que o recria, que o ama [ou que o odeia] de forma tão radical que o refaz à sua própria imagem” — como William Faulkner e Ernest Hemingway fizeram do Mississippi e do Kilimanjaro os seus territórios literários, recorda Didion. Se é assim, a era que sucedeu a manhã seguinte dos anos 1960 pertence a Jameson. Sua leitura do pós-modernismo não só esculpiu a teoria marxista nas últimas décadas e mapeou os conflitos dos tempos, como transformou para sempre a crítica cultural de esquerda. Jameson foi um dos primeiros autores a enfrentar as consequências estéticas do espraiamento da indústria cultural. Pensador exímio da forma que era — vale lembrar que seu livro Marxismo e forma é um marco nos estudos desse campo —, Jameson fez da ficção científica (até então entendida como um gênero comercial) um objeto de estudo para o marxismo. Também lançou mão de seu arcabouço literário para refletir sobre o cinema de Hollywood, uma contribuição frequentemente malcompreendida, e que hoje se converteu na única forma de crítica cultural que ainda mobiliza a esquerda, cativa do que se poderia denominar “Netflix Studies“. Mas o que é pouco retomado por sua fortuna crítica é que Jameson só se tornou um teórico do pós-modernismo porque era, antes de qualquer outra coisa, um teórico do modernismo. Para ele, o século XX se organiza em torno de dois tempos decisivos: modernismo e pós-modernismo. 

Este texto parte de um esforço em curso de elaboração de uma leitura da teoria do modernismo em sua obra. A ideia aqui não é oferecer uma análise exaustiva, mas apenas esboçar algumas considerações preliminares sobre o tema a partir de um registro que nos auxilia, salvo engano, a compreender o papel do modernismo em sua obra — e que também tem a ver com o Brasil. Esse material permite observar como a desprovincianização do pensamento pode vir dos lugares mais surpreendentes, e como esse movimento vincula Jameson de alguma forma a certa dialética brasileira.

À ocasião do lançamento da tradução de O inconsciente político, Jameson esteve no Brasil no congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada e participou de um debate com Maria Elisa Cevasco, Roberto Schwarz e Paulo Arantes. O debate foi parcialmente publicado na Folha de S. Paulo, numa época em que discussões de relevância ainda tinham espaço na imprensa, e a crítica literária não estava restrita a periódicos acadêmicos lidos apenas por especialistas. O texto apareceu em uma coluna assinada pelo próprio Schwarz em 1992. 

Maria Elisa Cevasco perguntou a Jameson sobre sua trajetória pessoal, especialmente como ele havia se tornado marxista. Jameson, tão discreto como sempre, evitou a pergunta biográfica — como afirmou certa vez em “On not giving interviews” (2006), evitava conceder entrevistas por considerar que esse formato reduzia a reflexão intelectual à mera opinião, uma forma empobrecida, polêmica e jornalística, carente de densidade política e teórica, como se tornaria ainda mais evidente na era das redes sociais. Preferiu, assim, falar sobre o contexto social e político em que se formou. Considero esse relato valioso justamente por tratar de questões que Jameson raramente discute em sua obra e nas poucas entrevistas que concedeu. Ele se descreveu como um intelectual dos anos 1950, e não dos anos 1960, alguém formado na era Eisenhower e no período do macarthismo, quando se silenciou o discurso de esquerda nos Estados Unidos. Jameson destacou que a esquerda americana dos anos 1960 estava desvinculada da tradição do Partido Comunista dos anos 1930 e 1940, tendo se desdobrado como um movimento completamente diverso do anterior. Apresentou-se, então, como alguém situado entre esses dois momentos — um marxista formado durante um intervalo político (ou, como Neil Larsen corretamente sugeriu noutro debate, o projeto de Jameson poderia ser entendido como uma tentativa de reunir os dois espíritos dos anos 1940 e 1960 do marxismo americano). 

Jameson descreveu aqueles anos como um período de consolidação e redescoberta do modernismo, de consagração de obras de Ezra Pound, André Gide, Thomas Mann e outros. E afirmou que, nos Estados Unidos, a estética modernista — diferentemente do que ocorreu na Europa — servia como uma forma de protesto contra a sociedade corporativa e gerencial dos trinta anos gloriosos, uma maneira de rejeitar essa sociedade. Em entrevista mais recente ao The Paris Review, conta que foi justamente porque queria estudar o modernismo que se doutorou num Departamento de francês — já que nos EUA daquele período nem os departamentos de inglês, nem de literatura comparada (que ele depois transformou) se ocupavam desses textos. Não é de se estranhar, portanto, que ele tenha sido atraído mais tarde por Theodor W. Adorno, com seu marxismo modernista e sua crítica da sociedade administrada. Esse modernismo, que os americanos julgavam apolítico, era, segundo Jameson, profundamente antiburguês, pois questionava a transformação do eu e do mundo. 

Oswald de Andrade, modernista brasileiro dos anos 1920, que se tornou comunista nos anos 1930, observou certa vez que, para o modernismo dos anos de 1920, o oposto do burguês ainda não era o proletário, mas o boêmio. Há algo disso que ressoa na fala de Jameson, no sentido de que o modernismo pode abrir outros caminhos.  Nesse debate, ele afirma: “quando era modernista, pude me desenvolver numa direção política”. A noção de “estilo” mobilizada por Jameson em sua obra não tem pouco a ver com isso. Para o crítico, em alguma medida, repensar formas estéticas e linguagens é repensar também formas sociais (e vice-versa). Isso evidencia como, para Jameson, a política está intrinsecamente ligada à forma — e vale lembrar que ele chega a essas reflexões sobre o caráter anti-gerencial do modernismo partindo de um autor reacionário como Erza Pound, por exemplo.

Conforme consta nas reflexões expostas em Inventions of a Present (citada na epígrafe deste texto), as considerações marxistas da crítica literária não aparecem sempre como se esperaria. Mais tarde, segundo Jameson, a Revolução Cubana mostraria que o socialismo estava muito próximo dos Estados Unidos, o que acabou sendo mais decisivo para seu interesse no marxismo do que qualquer fato biográfico — um socialismo, segundo ele, bastante distinto daquele do bloco soviético. Assim, nesse contexto da Guerra Fria, Jameson observa que revolução política e revolução formal convergiram no seu interesse pelo marxismo e pela dialética. Isso, por si só, explica muito do motivo pelo qual a renovação do marxismo nos EUA ocorreu no campo da literatura.

A partir desse ponto do debate, Roberto Schwarz fez uma sugestão instigante que gostaria de explorar aqui. Disse que o modernismo europeu foi uma força que “desprovincianizou” o contexto teórico americano e até o próprio marxismo. Trata-se de uma ideia interessante: uma desprovincianização que vem do centro, de certa forma, de cima para baixo (da Europa para os EUA), mas cujo efeito não foi simplesmente restaurar o cânone, e sim transformá-lo. Uma observação que vai na mesma direção do que escreveu Adorno certa vez, a saber, que o modernismo poderia ser lido como uma forma de obsolescência do moderno, e não como sua expressão positiva. Isto é, o modernismo é ele próprio um sintoma da decadência do moderno. Lido dessa maneira, ele pôde ser uma força crítica nos anos dourados do capitalismo norte-americano. 

Jameson era produto de uma ex-colônia que se tornou império. E, assim como seu país, parece-me que ocupava uma posição intermediária, análoga àquela que discute em seu ensaio polêmico e amplamente debatido “Modernismo e Imperialismo”, no qual argumenta que no século XX, para apreender a totalidade de um mundo que se globalizava, seria necessário pensar o nexo entre Norte e Sul, entre o centro e a periferia para entender não só o modernismo, mas a mudança de eixo da literatura que, para apreender a totalidade, precisava de alguma forma incorporar o vínculo colonial. Mencionei anteriormente que isso o aproxima da “dialética brasileira” e de sua discussão sobre o capitalismo periférico, porque evidencia não a importância da posição em si, tomada como uma ontologia geográfica (maneira como muitos leem equivocadamente a obra de alguém como Schwarz), mas o modo como o estranhamento ou a desprovincianização do pensamento — e especialmente do pensamento marxista — não vem da posição propriamente dita, mas do choque, do nexo, ainda que desigual, entre dois mundos

Ao longo de sua trajetória intelectual, Jameson soube fazer de uma contradição fundamental — a posição ambígua dos Estados Unidos como centro imperial do capitalismo global e, ao mesmo tempo, como sociedade marcada por formas de subdesenvolvimento estrutural típicas do Terceiro Mundo — um ponto de partida estratégico para a construção de sua crítica. Atento ao choque, assumiu essa duplicidade não como obstáculo, mas como chave heurística, e ocupou uma posição privilegiada enquanto crítico marxista estadunidense. Foi a partir dessa posição que elaborou um esforço notável para desprovincianizar o marxismo por dois vetores simultâneos e complementares: “por cima”, através de uma releitura sofisticada do modernismo europeu como problema histórico, estético e ideológico (e como a leitura de uma decadência do moderno que servia como crítica da ideologia do capitalismo americano); e “por baixo”, por meio da incorporação da literatura e da cultura do chamado Terceiro Mundo — América Latina, China, e as periferias esquecidas da Europa — como instâncias críticas indispensáveis para a reconstrução de uma teoria mundial da forma. 

Se a parte de baixo, hoje, deve ser deixada para outro dia (já que não há espaço para comentar tudo), vale dizer que o projeto que a sustentava permanece, a meu ver, profundamente relevante. Isso apesar das críticas legítimas — ou sobretudo diante delas —, que se dirigem à sua teoria da alegoria nacional ou às suas generalizações sobre a literatura do Terceiro Mundo. Em tempos de retração dos horizontes utópicos, de cerco ao pensamento radical e de crescimento vertiginoso de uma forma paradoxalmente internacionalista de provincianismo — o da extrema direita global —, a ambição teórica de Jameson não poderia ser mais atual.  

Jameson não apenas integrou seu marxismo — nascido em condições intelectuais altamente singulares — ao corpo mais amplo da Teoria Crítica; ele também o projetou como modelo para uma crítica literária capaz de enfrentar o desafio da mundialização. Nesse sentido, sua obra funciona como um verdadeiro atlas da literatura planetária, um mapeamento da imaginação estética que atravessa continentes e formações históricas diversas, sem jamais se render à abstração ou ao universalismo ingênuo, mas sem igualmente recair na doxa localista (muito presente, por exemplo, em certo pensamento decolonial para o qual a especificidade torna-se essência). É talvez por isso que sua influência tenha sido tão marcante nas periferias do capitalismo: sua teoria ofereceu uma alavanca poderosa para desprovincianizar não apenas a crítica literária, mas o próprio marxismo. Seu legado é menos uma obra do que um projeto, talvez o mais desenvolvido até agora, de uma crítica literária dialética e, sobretudo, internacionalista.

* Esta é uma versão ligeiramente modificada do texto escrito para a mesa Open the future: cartographie et archéologie chez Jameson, coordenada por Vincent Chanson & Frederico Lyra de Carvalho no Congresso “Historical Materialism – Conjurer la catastrophe” em Paris, 2025. 

    blogue da editora Boitempo 

domingo, 29 de junho de 2025

 QUEM ME DERA

Quem me dera ser pássaro
Cantar nas ameias dos castelos
Saber o rumo exato dos ninhos
Ignorar a certeza das fronteiras.

Quem me dera ser a nuvem passageira
Tão ligeira que o vento leva
Para o alto mar, lá longe,
Onde uma ilha emerge de repente.

Quem me dera ser a brisa que sopra
Sobre os areais marejados de lágrimas
E levam ao colo as andorinhas do mar.
Quem me dera ser ela mais as gaivotas.

Quem me dera que os oprimidos,
Os escravos e os inocentes
Se erguessem juntos outra e outra vez
E fossem pássaro, nuvem, brisa,
Cavalos vermelhos a galope nas planícies,
Andorinhas do mar, ilhas e penínsulas.
Quem me dera um amor infinito
Sem vontade de olhar para trás!

Quem me dera não ser de novo outra vez.

------------N. P. ------------------------------

Schubert Piano Quintet D667 The Trout Jacqueline du Pre, Daniel Barenb...

quarta-feira, 18 de junho de 2025

 


Não se sonha no presente
 
Não encontras refrigério no passado
E ainda assim contra ti
Tudo te lembra :
Um passeio solitário ao longo do rio,
Uma voz que te chamou e não ouviste,
O olhar azul de uma mulher.
Sabes que no presente
Há muita espuma do passado
Como nas marés que se repetem.
Nem tudo, nem tudo, nós sabemos.
O presente é sempre a matéria
Dos nossos sonhos acordados
Nisso concordamos.
Todavia, daqui a pouco
O que é já foi e permanece.
Tudo muda e tudo se repete?
Por isso é do futuro que me ocupo.
A morte sim, mas não é nela que penso.
Temo-a é verdade, porém o que desejo
É outra forma de vida
Noutro tempo e noutro espaço
Embora duvide no presente
Mas duvidar é já admitir.
Eu sei, eu sei,
Já não há metáforas para coisa alguma,
Tudo é opaco e se disfarça.
A identidade orgulhosa dos operários,
A definição definitiva da burguesia
E aquele espectro que rondava a Europa.
Tudo é insano e nada é o que parece.
É por isso que me disponho de frente para o futuro
A imaginar o que acontece.
---------Nozes Pires-------

 

Os assassinos

 

Na noite roxa, por entre pardos túmulos

disfarçando odores com perfumes caros

no céu baixo, passam depressa cúmulos.

Discursos que façam são letais disparos.

 

São os assassinos. Abrem valas nas cidades

levam à cama dos mártires a morte

nos altares instalam novas divindades

que ditam a minha, a tua, a vossa sorte.

 

São  os assassinos. Levam-te a passear na rua

como se faz a um cão. Ensinam, fazem, encenam

e nunca saberá se é mentira ou se é verdade

 

Porque esta mostra-se vestida, nunca nua.

Por isso não és cúmplice, apenas te condenam

a errar enlouquecido pela cidade.

------------------N .P.------------------

 

Norman Lewis (argumentista)

John Frederick Norman Lewis (28 de junho de 1908 – 22 de julho de 2003) foi um escritor britânico. Embora seja mais conhecido pelos seus relatos de viagens, escreveu também doze romances e vários volumes de autobiografia.

Norman LewisBertrand.pt - Missionaries
Nascido John Frederick Norman Lewis 28 de junho de 1908 Forty Hill , Enfield, Inglaterra

Morreu 22 de Julho de 2003 (95 anos)
Saffron Walden , Essex, Inglaterra
Profissão
  • Escritor de viagens
  • romancista

Os assuntos que explorou nos seus relatos de viagem incluem a vida em Nápoles durante a libertação de Itália pelos Aliados ( Nápoles '44 ); O Vietname e a Indochina colonial francesa ( Um Dragão Aparente ); Indonésia ( Um Império do Oriente ); Birmânia ( Terra Dourada ); povos tribais da Índia ( Uma Deusa nas Pedras ); Sicília e a Máfia ( A Sociedade Honrada e Na Sicília ); e a destruição causada pelos missionários cristãos na América Latina e noutros lugares ( Os Missionários ).

O seu artigo de jornal intitulado "Genocídio no Brasil" (1969) [ 1 ] motivou a criação da Survival International — uma organização dedicada à proteção dos povos indígenas de todo o mundo.

Graham Greene descreveu Lewis como "um dos melhores escritores, não de uma década em particular, mas do nosso século". [ 2 ]

Lewis era oriundo de uma família galesa e mais tarde identificou-se – pelo menos parcialmente – como galês, mas nasceu em "Clifton" (a que Lewis chamou "uma casinha tranquila e algo sombria"), [ 3 ] 343, Carterhatch Lane, Enfield , Middlesex , um subúrbio de Londres, filho do farmacêutico Richard George Lewis (falecido em 1936) e da sua mulher Louise Charlotte (nascida Evans; falecida em 1950). Os seus pais tornaram-se espiritualistas após a morte dos irmãos mais velhos de Lewis e esperavam que o jovem Lewis crescesse e se tornasse médium. [ 4 ] Uma criança inteligente, Lewis foi intimidado por outras crianças e enviado pelos pais para viver durante alguns anos com três "tias meio loucas" profundamente religiosas no País de Gales. [ 5 ] Tendo sido educado na Enfield Grammar School , quando jovem, Lewis tentou uma variedade de formas de ganhar a vida na Grande Depressão dos anos 30, incluindo fotógrafo de casamentos por conta própria, leiloeiro, grossista de guarda-chuvas e, por um breve período, piloto de motos no Harringay Stadium e White City . [ 2 ] Nesta altura da sua vida, era um "jovem libertino e elegante" com um "amor por carros velozes e aventura". [ 5 ] Durante alguns anos, durante este período, estabeleceu-se em Woodberry Down, perto de Manor House , em Londres. [ 6 ]

Os diferentes livros de Lewis dão relatos variados do seu serviço no Exército Britânico na Segunda Guerra Mundial . Na sua autobiografia, Jackdaw Cake , diz que serviu no Corpo de Informações em Argel, Tunísia e Nápoles em 1942-44; noutro lugar diz que acabou por ser comissionado como segundo-tenente e serviu com o 1st King's Dragoon Guards , um regimento blindado na Campanha Italiana . [ citação necessária ] O seu relato de experiências durante a ocupação Aliada de Itália, Nápoles '44 (1978) foi apelidado pelo The Telegraph de "um dos grandes relatos de primeira mão da Segunda Guerra Mundial." [ 2 ] Logo após a guerra, escreveu livros sobre a Birmânia , Golden Earth (1952) e French Indochina , A Dragon Apparent (1951), que o The Telegraph igualmente elogiou como "o melhor registo da Indochina antes da devastação causada pela Guerra do Vietname". [ 2 ]

Sociedades tribais

Outra grande preocupação de Lewis era o impacto da atividade missionária nas sociedades tribais da América Latina e de outros países. Era hostil às actividades dos missionários, especialmente dos evangélicos americanos . Isto é abordado no seu livro The Missionaries e em vários artigos mais curtos. Dizia frequentemente que considerava a maior conquista da sua vida a reacção mundial à escrita sobre as sociedades tribais na América do Sul. Em 1968, o seu artigo "Genocide in Brazil", publicado no Sunday Times após uma viagem ao Brasil com o fotógrafo de guerra Don McCullin , [ 7 ] criou tanto clamor que levou à criação da organização Survival International , dedicada à protecção dos povos indígenas de todo o mundo. Lewis disse mais tarde sobre este artigo que foi "o mais valioso de todos os meus esforços". [ 8 ]

Escrita

Lewis era fascinado por culturas pouco tocadas pelo mundo moderno. Isto refletiu-se nos seus livros sobre viagens na Indonésia , "Um Império do Oriente" , e entre os povos tribais da Índia, "Uma Deusa nas Pedras" .

Lewis escreveu vários volumes de autobiografia, mais uma vez preocupados principalmente com as suas observações dos muitos lugares onde viveu em vários momentos, incluindo a Ilha de Santa Catarina, no Sul do País de Gales , perto de Tenby, o distrito de Bloomsbury , em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial , a Nicarágua , uma aldeia piscatória espanhola ( Vozes do Velho Mar ), [ 2 ] e uma aldeia perto de Roma.

Lewis escreveu também doze romances. [ 7 ] Alguns deles obtiveram um sucesso significativo na altura da publicação, mas a sua reputação literária baseia-se principalmente nos seus escritos de viagem.

Testemunho de crimes de guerra no Lácio

Enquanto Lewis foi oficial britânico na frente de Monte Cassino , testemunhou crimes de guerra ( Marocchinato ) cometidos pelas tropas coloniais francesas durante a campanha italiana:

As tropas coloniais francesas estão novamente em fúria. Sempre que tomam uma cidade ou vila, ocorre uma violação generalizada da população. Recentemente, todas as mulheres das aldeias de Patricia, Pofi, Isoletta, Supino e Morolo foram violadas. Em Lenola, que caiu perante os Aliados a 21 de Maio, cinquenta mulheres foram violadas, mas – como não chegavam para todos – crianças e até idosos foram violados. Relata-se ser normal que dois marroquinos agredam uma mulher simultaneamente, um tendo relações sexuais normais enquanto o outro comete sodomia. Em muitos casos, foram causados ​​danos graves nos genitais, reto e útero. Em Castro di Volsci, os médicos trataram 300 vítimas de violação, e em Ceccano os britânicos foram obrigados a construir um acampamento vigiado para proteger as mulheres italianas.

Família

A primeira mulher de Lewis, Ernestina Corvaja, [ 2 ] era uma suíço-siciliana. [ 7 ] A vida siciliana, incluindo o papel da máfia , foi um tema importante, que explorou em The Honoured Society (1964) e In Sicily (2000). Embora nunca perdesse de vista os horrores infligidos pela máfia, os seus relatos não eram sensacionalistas. Baseavam-se numa compreensão detalhada da sociedade siciliana e numa profunda simpatia pelos sofrimentos do povo siciliano. A ligação latina encorajou-o a viajar, resultando no seu primeiro livro, Spanish Adventure (1935). O casamento, no entanto, fracassou no início da Segunda Guerra Mundial, em 1939. [ 2 ] Casou brevemente pela segunda vez, após a guerra. [ 2 ]

Faleceu em Saffron Walden , Essex, deixando a sua terceira mulher, Lesley, e o seu filho, Gawaine, e duas filhas, Kiki e Samara; e um filho, Gareth, e uma filha, Karen, do seu segundo casamento com Hester; e um filho, Ito, do seu primeiro casamento. O seu filho Gareth é também um escritor publicado. [ 2 ]

Lewis disse que não acreditava em "absolutamente nada" e, na verdade, "não acredito na crença". Não acreditava que a humanidade estivesse a progredir. [ 10 ] Falou sobre "a intensa alegria que sinto por estar vivo", [ 7 ] e disse estar "extremamente feliz". [ 10 ]

Bibliografia

Romances

  • Samara (Cabo 1949)
  • Dentro do Labirinto (Cape 1950; EUA: 1986 Carroll)
  • Um Único Peregrino (Cape 1953; EUA: 1953 Rinehart)
  • O Dia da Raposa (Cape 1955; EUA: 1955 Rinehart)
  • Os Vulcões Acima de Nós (Cabo 1957; EUA: Pantheon 1957, sem data)
  • Escuridão Visível (Cape 1960; EUA: Pantheon 1960)
  • O Décimo Ano do Navio (Collins 1962; EUA: 1962 Harcourt)
  • Uma pequena guerra feita por encomenda (Collins 1966; EUA: 1966 Brace)
  • Every Man's Brother (Heinemann 1967; EUA: Morrow 1968)
  • Voo de um Equador Escuro (Collins 1972; EUA: 1972 Putnam)
  • O Especialista Siciliano (Random 1974; Reino Unido: 1975 Collins)
  • A Companhia Alemã (Collins 1979)
  • A Passagem Cubana (Collins 1982; EUA: Pantheon 1982)
  • Um caso adequado para a corrupção (Hamilton 1984; EUA: Pantheon 1984, como O Homem do Meio )
  • A Marcha das Longas Sombras (Secker 1987)

Viagens e diversos

  • Aventura Espanhola (1935, posteriormente rejeitada)
  • Areia e Mar na Arábia (Routledge 1938)
  • Um Dragão Aparente: Viagens na Indochina (Cape 1951, Eland 1982; EUA: Scribner's 1951)
  • Terra Dourada: Viagens na Birmânia (Cabo 1952; EUA: Scribner's 1952)
  • O Céu em Mudança: As Viagens de um Romancista (Cape 1959; EUA: Pantheon 1959)
  • A Sociedade Honrada: A Conspiração da Máfia Observada (Collins 1964, Eland 2003; EUA: Putnam's 1964)
  • Nápoles '44: Um Oficial de Informações no Labirinto Italiano (Collins 1978, Eland 1983; EUA: Pantheon 1978)
  • Vozes do Velho Mar (Hamilton 1984; EUA: Viking 1985)
  • Jackdaw Cake (Hamilton 1985; nova edição de Eland 2013) – uma autobiografia
  • Uma Visão do Mundo (Eland 1986)
  • Os Missionários (Secker 1988; EUA: McGraw 1988)
  • Correr Através do Mar (Cape 1989)
  • Uma Deusa nas Pedras: Viagens na Índia (Cape 1991; EUA: Holt 1992) ( Thomas Cook Travel Book Award )
  • Um Império do Oriente: Viagens na Indonésia (Cape 1993; EUA: Holt 1993)
  • I Came I Saw (Picador 1994) – edição estendida de 'Jackdaw Cake'
  • O Mundo, O Mundo: Memórias de um Viajante Lendário (Cape 1996; EUA: Holt 1997)
  • O Formigueiro Feliz (Cape 1998)
  • Na Sicília (Cabo 2000)
  • Uma Viagem de Dhow (e outras peças) (Cape 2001)
  • O Túmulo em Sevilha (Cabo 2003)

Referências


  1. Gray, John (3 de janeiro de 2014). "Um Ponto de Vista: Os perigos da crença" . Revista BBC News; Rádio 4. Consultado em 11 de fevereiro de 2014 .

Leitura adicional

  • Lewis, Norman (23 de fevereiro de 1969). "Genocídio" (PDF) . The Sunday Times . Consultado em 16 de fevereiro de 2018 .
  • "Obituários: Norman Lewis" . The Telegraph . 23 de julho de 2003. Consultado em 11 de fevereiro de 2014 .
  • Homem Semi-Invisível - A Vida de Norman Lewis, Julian Evans, Picador, 2009, p. 9
  • Tomes, Jason (2007). "Lewis, (John Frederick) Norman (1908–2003), viajante e autor" . Dicionário Oxford de Biografia Nacional (edição online). Oxford University Press. doi : 10.1093/ref:odnb/92251 . ISBN  978-0-19-861412-8. (É necessária uma assinatura ou filiação na biblioteca pública do Reino Unido .)
  • "Obituário: Norman Lewis" . 23 de Julho de 2003.
  • Julian Evans, Homem Semi-Invisível: A Vida de Norman Lewis, Pan MacMillan, 2009, pp 95–96
  • Evans, Julian (23 de julho de 2003). "Obituário – Norman Lewis: Escritor profundamente reservado, cuja prosa civilizada testemunhou as atrocidades e as loucuras do mundo" . O Guardião . Consultado em 11 de fevereiro de 2014 .
  • Lewis, Norman (2004). Uma Visão do Mundo: Jornalismo Seleccionado . Londres: Eland Publishing. p. 11. ISBN  978-0-907871-43-9.
  • Lewis, Norman (1978). Nápoles '44 . Nova Iorque: Pantheon Books. pp.  143–144 .