sábado, 14 de setembro de 2019

Santiago, Itália: Nanni Moretti não quis ser imparcial

Moretti mostra desde a alegria dos tempos de vitória de Allende, aos momentos de pavor, tortura e morte que se seguiram ao golpe militar.

Não sou imparcial“, diz Nanni Moretti a um militar encarcerado por homicídio e rapto nos tempos da ditadura de Augusto Pinochet neste Santiago, Itália, documentário que apesar de fugir ao cinema militante clássico invade os ecrãs com uma mensagem e montagem bastante claras quanto à posição do cineasta e a natureza do golpe de estado perpetrado no Chile a 11 de setembro de 1973.
Construído num misto de entrevistas com imagens de arquivo e muita documentação centrada no papel da embaixada de Itália em Santiago nessa Era (uma verdadeira “arca de noé” para os dissidentes políticos do regime de Salvador Allende), Santiago, Italia faz uma homenagem, não apenas às vítimas imediatas do golpe, os chilenos, mas igualmente aos dois jovens diplomatas italianos que abriram as portas da embaixada para refugiar todos os que tentavam escapar a esse novo regime ditatorial. Para Moretti, esses dois diplomatas – Piero de Masi e Roberto Toscano – foram um “exemplo de como os indivíduos podem fazer a diferença” na sociedade, especialmente tratando-se de duas pessoas da sua geração, da sua juventude.
Esta mesmo Itália, que agora expulsa e deixa os refugiados à deriva no Mediterrâneo (encontra-se subentendido no timing de lançamento deste documentário uma crítica ao regime atual), agiu na época com um grande sentido de humanismo, até porque se sentia no país, especialmente nos movimentos de esquerda, que aquele golpe era o fim de um sonho: pela primeira vez um governo de esquerda chegava ao governo através de eleições livres e não pelas armas, mas de nada valeu, pois Pinochet atropelou esse sonho.
São muitas as vozes que o italiano reúne em 80 minutos documentais que recorrem muitas vezes a imagens de arquivo. De jornalistas aos diplomatas, passando por muitas outras áreas, onde não faltam realizadores; Moretti recolhe depoimentos que vão desde a alegria dos tempos de vitória de Allende, aos momentos de pavor, tortura e morte que se seguiram ao golpe militar. Em comum em quase todas as vozes de quem conta as histórias percebe-se o sofrimento daqueles dias e o medo que se havia instalado. O cineasta Miguel Littín é um desses testemunhos, não tendo dúvidas que Allende foi assassinado, ao contrário de outros, que colocam a hipótese de ter cometido suicídio.

Littín é, aliás, um dos cineastas chilenos mais ativos a contar esse período negro da história do seu país, tendo viajado clandestinamente durante a ditadura e filmado centenas de horas de material documental (experiência relatada em livro por Gabriel Garcia Marquez), para além de, mais recentemente, ter assinado obras como Dawson – Isla 10, que aborda o encarceramento numa ilha remota dos mais próximos do regime de Salvador Allende, ou Allende en su Laberinto, sobre o golpe e a transformação do Palácio de La Moneda no último reduto da democracia chilena.
Mas como se entendeu no primeiro parágrafo, Moretti dá também tempo de antena aos golpistas, bem definidos por si como os vilões: dois militares do regime Pinochet com posições, visões e experiências diferentes sobre as razões do golpe militar. Não são testemunhos suficientes – nem o tempo dedicado – para poder entender com maior profundidade as suas intenções reais e um fio condutor do pensamento que explique as suas ações, mas como Moretti disse, ele não está aqui para imparcialidades. Mas quem está?
Crítica de Jorge Pereira
(Nota: este texto foi originalmente publicado no c7nema, um dos mais antigos sites de informação, opinião e crítica de cinema em Portugal, tendo sido aqui reproduzido com a devida autorização.)
Com a devida vénia

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Arte povera

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Pino Pascali, Trappola (1968)
Arte povera (pronuncia-se arte póvera; em português "arte pobre") foi uma expressão criada pelo crítico e curador italiano Germano Celant,[1] para referir-se ao movimento artístico que se desenvolveu originalmente na segunda metade da década de 1960 na Itália. Os seus adeptos utilizavam materiais de pintura (ou outras expressões plásticas não convencionais, como por exemplo areia, madeira, sacos, jornais, cordas, feltro, terra e trapos) com o intuito de "empobrecer" a obra de arte, reduzindo os seus artifícios e eliminando barreiras entre a Arte e o quotidiano das sociedades.[2]
O movimento artístico desenvolveu-se ao longo da década de 1970, período em que os artistas voltaram a sua atenção para as temáticas da natureza e seus derivados, rompendo com os processos industriais e revelando a sua critica ao empobrecimento de uma sociedade guiada pelo acúmulo de riquezas materiais.[3]

Artistas ligados ao movimento

Referências


  • Dempsey, Amy. Estilos, escolas e movimentos: Guia enciclopédico da arte moderna. Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. 166-168 p.

  • Renata da Silva Moura (2002). «Uma experiência da Arte Povera». PUC-Rio. Consultado em 7 de janeiro de 2015. Arquivado do original em 11 de janeiro de 2015

    1. Infopédia, Arte povera, acessado em 7 de janeiro de 2015.

    Ver também

    Bibliografia

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    Jannis Kounellis morreu em 2017

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    quarta-feira, 11 de setembro de 2019

    1924-2019

    Morreu o fotógrafo Robert Frank

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    O fotógrafo Robert Frank, autor do seminal livro "Os americanos" e um dos mais influentes fotógrafos do século XX, morreu esta segunda-feira, foi hoje anunciado.
    Frank tinha 94 anos. A notícia foi dada pelo jornal "The New York Times", citando o responsável pela Pace-MacGill Gallery, de Manhattan, que representava o artista de origem suíça que residia há décadas no Inverness, Nova Escócia, Canadá.
    Robert Frank nasceu em Zurique, na Suíça, em 1924, e chegou a Nova Iorque com 23 anos. Foi "Os americanos", um livro de fotografia que resultou de viagens na América dos anos 50, e publicado em 1959, que o catapultou para a História da fotografia moderna.
    As suas imagens rasgaram o cânone da fotografia documental e jornalística, nota o "The New York Times", na altura definida por fotos bem iluminadas, melhor definidas, resultantes de uma formulação clássica da composição. Frank desafiou essa compostura com os seus retratos desprovidos de planeamento visual, crus e emocionais, muitas vezes nem sequer bem focados, que lhe garantiram um lugar de destaque na fotografia do século passado, mas também lhe valeram, inicialmente, muitas críticas.
    As fotos de uma América real, em toda a sua plenitude geográfica e social, foram recebidas como sendo "displicentes" - descrição da revista "Popular Photography", que acusou Frank de odiar o país que o adotou. Frank teria destruído a imagem do país idílico que se tinha elevado sobre o Mundo do pós-guerra, os EUA da TV que nascia e influenciava o modo de vida da família de modelo perfeito: os Estados Unidos do capitalismo uniforme e sem falhas no tecido social.
    "Os americanos" era, por isso, um trabalho contra a conformidade que encontrou uma conexão com Jack Kerouac (que lhe prefaciou a obra), autor de "Pela estrada fora", testemunho máximo da geração "beatnik" que se lançou sobre a terra americana para lhe descobrir os homens rugosos, as tensões raciais ou as comunidades alienadas, numa desconstrução do sonho e descoberta da dissonância de classes. Uma decomposição que, para além de social, era também técnica e cultural.
    Mas a obra pioneira de Robert Frank acabou por ser consagrada. Primeiro, pela influência na abordagem à fotografia de documentário, uma estética do imediato imponderado que dura até hoje. E, depois, pela legitimação artística que lhe foi atribuída, com exposições e análises que o colocaram no panteão das obras que melhor refletem o país e o povo americanos.
    O livro foi seguramente o pináculo da sua obra artística, que depois se concentrou no cinema, ainda que sem encontrar o mesmo tipo de reconhecimento.
    Frank era um cético militante: "A minha mãe perguntou-me: 'Porque é que tiras sempre fotografias aos pobres?' Não era verdade, mas a minha simpatia eram dirigidas para as pessoas em dificuldades. Também havia a minha desconfiança em relação às pessoas que faziam as regras", declarou em 2015.
    Colaborador regular como fotógrafo de revistas como Harper's Bazaar, Fortune, Life, Look, McCall's, Vogue e Ladies Home Journal, Robert Frank passou depois a interessar-se por cinema, criando clássicos da subcultura norte-americana como "Pull My Daisy" (1959), o seu primeiro filme, um dos títulos pioneiros do cinema independente norte-americano, centrado na Beat Generation, com participações de autores como Allen Ginsberg e Kerouac, que escreveu o comentário irónico, dito em 'off'.
    A Cinemateca Portuguesa tem incluído na sua programação diversos filmes do fotógrafo-cineasta. Assim aconteceu em 2018, durante o ciclo "24 Imagens", dedicado a cinema e fotografia, com a exibição de algumas das suas obras iniciais.
    Em 2016, a Cinemateca apresentou "Don't Blink, Robert Frank", documentário dirigido por Laura Israel, que editou os filmes de Robert Frank desde os anos de 1980/1990, sobre todo o seu percurso.
    "Harry Smith at the Breslin Hotel" (2018), "Cool Man in a Golden Age" (2010), sobre o artista Alfred Leslie, e "True Story" (2004), com instantâneos de vida familiar em casas de Nova Iorque e da Nova Escócia, são alguns dos documentários mais recentes de Robert Frank.
    *com Lusa

    sexta-feira, 6 de setembro de 2019

    Notícias ao Minuto

    Vencedor de Leão de Ouro em Veneza Jimmie Durham expõe no Porto

    O artista norte-americano Jimmie Durham, vencedor do Leão de Ouro de carreira da Bienal de Arte de Veneza deste ano, vai estar presente na inauguração da exposição "Acha que Minto?", a 13 de setembro, na Culturgest do Porto.

    Vencedor de Leão de Ouro em Veneza Jimmie Durham expõe no Porto
    Notícias ao Minuto
    06/09/19 11:39 ‧ Há 8 Horas por Lusa
    Cultura Leão de Ouro
    Esta exposição, que esteve em Lisboa, entre junho e agosto, no espaço Fidelidade Arte, resultado de uma parceria, tem curadoria de Delfim Sardo, e terá entrada gratuita na Culturgest entre 14 de setembro e 05 de janeiro de 2020, de acordo com um comunicado divulgado hoje pela entidade.
    O percurso de Jimmie Durham - que recebeu, este ano, o Leão de Ouro na 58.ª Bienal de Arte de Veneza - cruza a poesia, o ativismo político e a prática artística, numa obra que a crítica considera ter dado novos sentidos à relação entre política e poética.
    Esta exposição faz parte do projeto Reação em Cadeia, uma parceria Fidelidade Arte e Culturgest, que, depois de ter estado em Lisboa, irá ao Porto com um desenho expositivo diferente, adaptado ao espaço, e com mais três obras que não estiveram na capital.
    "Acha que Minto?" retoma outra exposição --- "História Concisa de Portugal" --- apresentada pelo artista, em 1995, na Galeria Módulo, a primeira presença do seu trabalho em Portugal, que veio a ser relevante no seu percurso.
    Inspiradas no livro "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago, considerado por Durham um livro de referência para a história do século XX, as obras incluem citações do texto que, datilografadas ou manuscritas, integram individualmente cada uma das peças, não se constituindo, no entanto, como metáforas ou ilustrações.
    Esta exposição "recupera um momento importante do seu percurso e, ao mesmo tempo, faz a ponte com o seu trabalho presente, demonstrando a sua aguda atualidade", segundo o comunicado divulgado pela Culturgest.
    O trabalho artístico de Jimmie Durham "é frequentemente vinculado ao lugar específico onde é criado", com obras construídas a partir de objetos encontrados pelas ruas da cidade de Lisboa, como troncos e pedaços de madeira, pedras e peças variadas de metal, plástico, cerâmica ou tecido.
    "As peças parecem definir um universo precário e resgatado a um tempo indefinido. A relação paradoxal entre realidade e ficção, essencial na estrutura do livro de Saramago que narra o último ano da vida do mais famoso heterónimo de Fernando Pessoa, possui aqui um correlato expresso no título da exposição 'Acha que Minto?', ele próprio uma citação do mesmo livro", descreve.
    O texto de Saramago é incluído numa das obras de Durham: "Acha que minto?, Não, que ideia, aliás, nós não mentimos, quando é preciso, limitamo-nos a usar as palavras que mentem".
    No seu conjunto, estas obras retomam as temáticas que o artista tem vindo a desenvolver: a quebra, o estilhaçar do mundo e, simultaneamente, o seu encantamento assente no acidente, e as políticas de representação identitária.
    Esta exposição "constitui, desta forma, não só a recuperação de um momento importante no percurso de Jimmie Durham, mas também uma ponte em relação ao seu trabalho presente, demonstrando a sua aguda atualidade", sublinha a Culturgest.
    Jimmie Durham, nascido nos Estados Unidos, em 1940, dedicou-se ainda jovem, nos anos 1960, ao ativismo político, à poesia e à performance, e viajou para Genebra no final daquela década para estudar escultura e performance na École Nationale Supérieure des Beaux Arts.
    De regresso aos Estados Unidos envolveu-se com o American Indian Movement, do qual integrou o Conselho Central e, posteriormente, dirigiu o International Indian Treaty Council, tendo vindo a ser o seu representante nas Nações Unidas.
    Em 1980, voltou a dedicar-se à arte, mantendo, no entanto, o ativismo político e associativo. Deixou os Estado Unidos em 1987 e foi viver para Cuernavaca, no México, período durante o qual participou em exposições internacionais de referência, como a Documenta, em Kassel, Alemanha, ou a Bienal de Whitney, em Nova Iorque, Estados Unidos.
    Estabeleceu-se na Europa em 1994, residindo atualmente entre Berlim e Nápoles.
    Em 2017, foi objeto da exposição retrospetiva Jimmie Durham: At the Center of the World, organizada pelo Hammer Museum, em Los Angeles.
    A inauguração, no Porto está prevista para 13 de setembro, às 22:00, e conta com a presença do artista.
    No quadro do ciclo Reação em Cadeia, é proposto aos artistas participantes o convite ao artista que lhes sucede em ambos os espaços: Jimmie Durham foi o artista proposto por Ângela Ferreira (nascida em Maputo, Moçambique, em 1958), que o antecedeu, sendo Elisa Strinna (nascida em Pádua, Itália, em 1982) a artista que o sucederá.