1924-2019
Morreu o fotógrafo Robert Frank
1 / 2
O
fotógrafo Robert Frank, autor do seminal livro "Os americanos" e um dos
mais influentes fotógrafos do século XX, morreu esta segunda-feira, foi
hoje anunciado.
Frank tinha
94 anos. A notícia foi dada pelo jornal "The New York Times", citando o
responsável pela Pace-MacGill Gallery, de Manhattan, que representava o
artista de origem suíça que residia há décadas no Inverness, Nova
Escócia, Canadá.
Robert
Frank nasceu em Zurique, na Suíça, em 1924, e chegou a Nova Iorque com
23 anos. Foi "Os americanos", um livro de fotografia que resultou de
viagens na América dos anos 50, e publicado em 1959, que o catapultou
para a História da fotografia moderna.
As
suas imagens rasgaram o cânone da fotografia documental e jornalística,
nota o "The New York Times", na altura definida por fotos bem
iluminadas, melhor definidas, resultantes de uma formulação clássica da
composição. Frank desafiou essa compostura com os seus retratos
desprovidos de planeamento visual, crus e emocionais, muitas vezes nem
sequer bem focados, que lhe garantiram um lugar de destaque na
fotografia do século passado, mas também lhe valeram, inicialmente,
muitas críticas.
As fotos de uma
América real, em toda a sua plenitude geográfica e social, foram
recebidas como sendo "displicentes" - descrição da revista "Popular
Photography", que acusou Frank de odiar o país que o adotou. Frank teria
destruído a imagem do país idílico que se tinha elevado sobre o Mundo
do pós-guerra, os EUA da TV que nascia e influenciava o modo de vida da
família de modelo perfeito: os Estados Unidos do capitalismo uniforme e
sem falhas no tecido social.
"Os
americanos" era, por isso, um trabalho contra a conformidade que
encontrou uma conexão com Jack Kerouac (que lhe prefaciou a obra), autor
de "Pela estrada fora", testemunho máximo da geração "beatnik" que se
lançou sobre a terra americana para lhe descobrir os homens rugosos, as
tensões raciais ou as comunidades alienadas, numa desconstrução do sonho
e descoberta da dissonância de classes. Uma decomposição que, para além
de social, era também técnica e cultural.
Mas
a obra pioneira de Robert Frank acabou por ser consagrada. Primeiro,
pela influência na abordagem à fotografia de documentário, uma estética
do imediato imponderado que dura até hoje. E, depois, pela legitimação
artística que lhe foi atribuída, com exposições e análises que o
colocaram no panteão das obras que melhor refletem o país e o povo
americanos.
O livro foi seguramente o
pináculo da sua obra artística, que depois se concentrou no cinema,
ainda que sem encontrar o mesmo tipo de reconhecimento.
Frank
era um cético militante: "A minha mãe perguntou-me: 'Porque é que tiras
sempre fotografias aos pobres?' Não era verdade, mas a minha simpatia
eram dirigidas para as pessoas em dificuldades. Também havia a minha
desconfiança em relação às pessoas que faziam as regras", declarou em
2015.
Colaborador regular como
fotógrafo de revistas como Harper's Bazaar, Fortune, Life, Look,
McCall's, Vogue e Ladies Home Journal, Robert Frank passou depois a
interessar-se por cinema, criando clássicos da subcultura
norte-americana como "Pull My Daisy" (1959), o seu primeiro filme, um
dos títulos pioneiros do cinema independente norte-americano, centrado
na Beat Generation, com participações de autores como Allen Ginsberg e
Kerouac, que escreveu o comentário irónico, dito em 'off'.
A
Cinemateca Portuguesa tem incluído na sua programação diversos filmes
do fotógrafo-cineasta. Assim aconteceu em 2018, durante o ciclo "24
Imagens", dedicado a cinema e fotografia, com a exibição de algumas das
suas obras iniciais.
Em 2016, a
Cinemateca apresentou "Don't Blink, Robert Frank", documentário dirigido
por Laura Israel, que editou os filmes de Robert Frank desde os anos de
1980/1990, sobre todo o seu percurso.
"Harry
Smith at the Breslin Hotel" (2018), "Cool Man in a Golden Age" (2010),
sobre o artista Alfred Leslie, e "True Story" (2004), com instantâneos
de vida familiar em casas de Nova Iorque e da Nova Escócia, são alguns
dos documentários mais recentes de Robert Frank.
*com Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário