sexta-feira, 30 de junho de 2017
terça-feira, 27 de junho de 2017
CUBO FUTURISMO RUSSO
O
Manifesto Futurista de 1909, de Filippo Tommaso Marineti, teve grande
repercussão nos movimentos artísticos do início do século. Os Futuristas
defendiam uma arte nova, a destruição do que é antigo, o triunfo
tecnológico do homem sobre a natureza. JANSON (1996, p.371) afirma que
“o movimento futurista italiano, de curta duração, exemplifica esta
atitude; […] seus fundadores lançaram um manifesto que rejeitava
violentamente o passado e exaltava a beleza da máquina.”:
“Para
que olhar para trás, no momento em que é preciso arrombar as portas
misteriosas do impossível? O tempo e o espaço morreram ontem.” (trecho
do Manifesto futurista)
Os
futuristas admiravam, sobretudo, a velocidade e tecnologia. Também era
citada a exaltação da juventude e da violência. ”Exigiam a destruição
dos museus e seu ódio voltava-se contra a tradição da arte” (BAUMGART,
1999, p.1). O novo contexto mundial, como as grandes mudanças que
ocorriam nos campos sociais, econômicos, políticos, viriam a ser
acompanhados das mudanças culturais. O momento é de transição. Assim
como o dinamismo evidente no começo do século, os futuristas reproduziam
e amplificavam essa percepção. O início do século é marcado por
progressos tecnológicos. Contudo, os futuristas russos “nunca
glorificavam a máquina, menos ainda como um instrumento de guerra”
(JANSON, 1996, p.1)
Na
Rússia, o futurismo foi chamado de Cubo-futurismo, como cita JANSON
(1996, p.372) “[…] adotou o estilo de Picasso e baseou suas teorias em
manifestos futuristas.” Um conceito para o pensamento cubo-futurista é o
zaum, termo que não tem equivalência no ocidente. “[…] inventado pelos poetas russos, zaum era uma linguagem do trans-sentido […] baseada em novas formas de palavras numa nova sintaxe.” (JANSON, 1996, p.373).
O
termo Futurismo Russo, também amplamente empregado, serve para
descrever os artistas que adotaram o Manifesto Futurista. O grupo Hylea,
formado por artistas como Vladimir Mayakovski e David Burlyuk, publicou
em 1912 um manifesto chamado “A slap in the Face of Public Taste”, que
pode ser mais bem traduzido por “Bofetada no gosto público”. “[…] o
futurismo é uma certa simbiose entre Burliuk, que “ultrapassou” o tempo de maestria, e a consciência socialista de Maiakovski.” (MIKHAILOV, 2008, p.75) e ainda:
É
notável a avaliação de R.V. Duganov, autor de pesquisas sobre o
futurismo e sobre Vielemir Khliebnikov: “O assunto era de vida ou morte
da arte em geral. E a questão não eram os caminhos de seu
desenvolvimento e aperfeiçoamento, mas a reviravolta brusca da estética,
limpar e destruir até achar sua natureza primitiva. Pode se dizer que
no futurismo a arte extravasava sem perder sua essência.” (MIKHAILOV,
2008, p.93)
A
rejeição do manifesto era grande entre os artistas, já que pregavam a
destruição do passado. “No manifesto, a idéia norteadora é da negação,
formulada da forma mais leve e irresponsável.” (MIKHAILOV, 2008, p.88).
Os
futuristas russos trabalhavam muito com tipografia, no significado das
formas das letras e em seu layout num cartaz ou em uma poesia. Portanto,
um poeta trabalha com as letras em seu poema assim como um pintor
arranja as cores e formas de sua obra.
A
combinação de Cubismo e Futurismo propiciou o aparecimento posterior de
inúmeros movimentos artísticos. Segundo JANSON (1996, p. 373) “Embora
os cubos-futuristas sejam mais importantes como teóricos do que como
artistas, eles serviram de trampolim para os movimentos russos
posteriores”.
Contudo, “Maikovski, provavelmente, tinha consciência de que a pintura não era sua vocação.” (L.F. Jeguin apud MIKHAILOV,
2008, p.78). Percebe-se que Maiakovski não tinha extrema predileção
sobre a pintura, embora muitos de seus cartazes tenham servido de
referência para o Construtivismo.
Seus
poemas são carregados de engajamentos pró-Revolução, com grande
sentimento revolucionário. Nos primórdios da revolução, Maiakovski ajuda
a consolidar a revolução, tanto no lado político ideológico como no
lado cultural. Porém, alguns anos depois, o caráter revolucionário deixa
de existir só, e passa a contracenar com as sátiras.
terça-feira, 20 de junho de 2017
Claude Monet
Mestre em Artes Visuais (UDESC, 2010)
Graduada em Licenciatura em Desenho e Plástica (UFSM, 2008)
Graduada em Licenciatura em Desenho e Plástica (UFSM, 2008)
Claude Monet, em 1899. Foto de Nadar (Gaspard-Félix Tournachon). / via Wikimedia Commons
Nos anos que se seguiram Monet conheceu Camille Doncieux com que viria a ter dois filhos, Jean e Michel. Em 1879 Camille morreu de tuberculose.
Em 1861 foi convocado para servir o exército e defender a França na guerra. Após quase um ano na Argélia, Monet volta à França e retoma seus estudos ao ar livre, passando a estudar com Charles Gleyre. Em 1866, Monet expôs o retrato de Camille Doncieux em um Salão.
Em 1874 foi realizada em Paris a primeira exposição dos impressionistas, contando com obras de Monet, Renoir, Degas e Cézanne. O termo Impressionismo, deriva do quadro de Monet chamado Impressão, sol levante (1872). Em função da exposição um jornalista da época Louis Leroy atacou a obra de Monet num artigo intitulado “Exibição dos impressionistas” para o jornal Le Charivari.
Em 1880 Monet realiza sua primeira exposição individual, que foi um sucesso. O público começava a ver com bons olhos as pinturas impressionistas.
Monet passou por sérias dificuldades financeiras, porém tinha um fiel comprador de suas obras, o milionário Ernest Hoschedé. Anos mais tarde Monet viria a casar com a esposa do seu comprador, Alice Hoschedé, após ambos ficarem viúvos.
Em 1883 Monet mudou para Giverny e em 1892 casou-se com Alice, estabelecendo-se numa grande propriedade as margens do rio. Monet continuava seus estudos impressionistas e na década de 1890 pintou uma série da Catedral de Rouen em diferentes horários e pontos de vista, desde o amanhecer até o anoitecer. O jardim de sua residência em Giverny também foi inspiração para uma série de obras chamada Ninfeias.
Um dos pilares da pintura impressionista era retratar o que a mente concebe da paisagem em detrimento ao que olho humano vê. Nesse sentido Monet desenvolveu técnicas que o ajudariam a representar essa realidade. Usando pinceladas firmes e fragmentadas, por exemplo, Monet retratava a ondulação e os reflexos da água com genialidade.
No fim de sua vida Claude Monet sofreu com catarata o que afetou seu entusiasmo para continuar seus estudos. Monet morreu em 1926 e encontra-se enterrado no cemitério da igreja de Giverny.
Referências bibliográficas:
O mais dedicado impressionista. Disponível em: < http://mestres.folha.com.br/pintores/04/ >.
Os Grandes Artistas – romantismo e impressionismo: Degas, Toulouse-Lautrec, Monet. Editora Nova Cultura LTDA, São Paulo, 1991.
sábado, 17 de junho de 2017
Das Artes.blogspot.com
Joseph Mallord
William Turner, nasceu em Londres no ano de 1775 e foi um dos mais
bem-sucedidos artistas do século 19. Desde garoto demonstrou
inclinação à pintura fazendo desenhos que seu pai expunha na
vitrina de sua barbearia. Já aos 12 anos como aprendiz do gravador
John R. Smith, coloria gravuras obtendo noções de perspectiva e
aquarela. Seu enorme talento abriu-lhe as portas da Royal Academy
(1789), para se aperfeiçoar.
Aos 20 anos foi
contratado por uma revista – Copper Plate Magazine – para fazer
ilustrações. Seu trabalho consistia em viajar pelo interior da
Inglaterra, retratando velhos castelos, abadias, catedrais e
paisagens. Revelou-se excelente aquarelista, preocupado, sobretudo,
com os efeitos de luz.
Apesar do
processo de urbanização da Inglaterra, consequência da Revolução
Industrial, Turner continuou fiel às paisagens, característica que
o consagrou como um dos últimos românticos ingleses. Em 1796,
quando expôs suas primeiras paisagens a óleo, foi recebido com
sucesso. Em 1799 foi eleito membro da Royal Academy. O sucesso
deu-lhe condições para viajar à França e à Suíça, pintando
paisagens locais.
Em 1804,
construiu atrás de sua casa, na Harley Street uma galeria para
expôr permanentemente suas obras, transferindo-a, depois, para a
Queen Ann Street. Em 1804 foi nomeado professor da Royal Academy.
IMPRESSIONISTA
Trabalhava
sempre seus esboços ao ar livre, mas coloria em casa, confiando em
sua memória e valendo-se de anotações valiosas. Foi em 1819 que
fez uma longa viagem pela Itália, quando se familiarizou com as
obras de Canaletto. Dessa viagem surgiu uma nova fase, que se
prolongou até 1840: a obsessão pela luz tomou conta de suas telas.
Turner não só
mostrava apenas os detalhes do local em que retratava, mas em
descrever as condições atmosféricas e como elas modificavam as
cenas, causando impacto emocional no espectador.
Passou a pintar
muito as marinhas ou paisagens com muita água, onde a luz podia se
refletir. Mal compreendido pelos seus conterrâneos foi chamado de O pintor do branco. É dessa fase a obra Fragata Téméraire (1839),
retratada no momento em que era rebocada.
Nessa tela, ela é de cor
prata, sobre um fundo de pôr de sol e com a imensidão do mar
refletindo a cena. Porém a obra foi considerada vistosa, mas sem
valor.
Solteirão,
transferiu-se para Chelsea, sob o nome falso de Mr Booth, afim de
afastar os inoportunos. Os vizinhos julgavam-no um velho marinheiro
aposentado e meio louco.
Suas telas passaram a se constituir de
vibrações de luz e movimento; pintava cataclismos cósmicos e
passou a interessar-se pelo conflito dos elementos. Os
contemporâneos não o compreenderam, mas para os impressionistas era
um mestre, que passava a impressão instantânea registrada pela
retina.
O escritor e
crítico de arte John Ruskin o defendeu quando seus conterrâneos só
viam o negativo em suas obras. Em Os Pintores Modernos,
obra publicada em 1843, Ruskin descreve:
A tempestade de neve como uma das maiores afirmações do movimento do mar, da névoa e da luz que jamais foram retratadas numa tela.
Morreu em
Londres, em 1851, deixando ao patrimônio nacional toda a sua obra:
cem telas acabadas, 182 inacabadas e mais de 19.000 desenhos e
aquarelas. Para compor essa coleção chegou a recusar vultosas
somas, pois achava sua obra muito importante para ficar em mãos
particulares. Considerava-se um patrimônio artístico. Sempre
que podia comprava trabalhos que vendera quando jovem, para legá-los
à Nação.
Seu grande
mestre, sua maior inspiração foi Claude Lorrain. Ao deixar suas
obras à Nação, exigiu que em seu testamento duas de suas obras
fossem sempre expostas ao lado de duas obras de Claude Lorrain.
Ficou visto
como o grande compositor plástico da luz, do espaço, do vento e dos
segredos. Entendia a linguagem secreta das tempestades e das ondas.
Falava com o mar e com as nuvens. Calmarias, geadas, vendavais,
nevascas, tudo se transformava de uma forma visionária, com
contornos imprecisos dentro da imensidão dos espaços abertos, dos
turbilhões da natureza. Nele a figura humana desaparecia.
Segundo sua
vontade foi sepultado na Catedral de Saint Paul, ao lado de Sir
Joshua Reynolds.
quinta-feira, 15 de junho de 2017
sábado, 3 de junho de 2017
O cerco de Leninegrado, Chostakovich, e a reescrita da história
Jenny Farrell 03.Jun.17 Outros autores
A
guerra-fria contra a Rússia – e anteriormente contra a União Soviética –
continua. Inclui o apagamento da memória pública das muitas atrocidades
cometidas pela Alemanha nazi sobre a população soviética e o heróico
papel assumido por esta na derrota do fascismo.
Em 22 de Junho de 1941 a Alemanha invadiu a União Soviética. Daí resultou uma mortandade com proporções de holocausto: pereceram 25 milhões de soviéticos, mais de metade do total de mortos na Segunda Guerra Mundial.
Um dos mais horríveis actos de barbárie foi o bloqueio de Leninegrado pelos alemães. Por mais de 900 dias, de 8 de Setembro de 1941 a 27 de Janeiro de 1944, foram cortados todos os abastecimentos e o povo de Leninegrado foi sistematicamente condenado a morrer à fome. Morreu mais de um milhão de cidadãos de Leninegrado.
Avançamos rapidamente até Abril de 2017, quando um fatal ataque terrorista (realizado por grupos mais do que por Estados) tem lugar em S. Petersburgo (Leninegrado). Depois de ataques semelhantes em cidades da Europa Ocidental, e como expressão de solidariedade, a bandeira nacional alemã fora projectada sobre a porta de Brandeburgo, em Berlim. Mas desta vez isso não foi feito porque, segundo o presidente da câmara – nascido em Berlim Leste – S. Petersburgo não tem qualquer “relação especial” com Berlim. É possível que o branqueamento da história tenha feito com que nunca tivesse ouvido falar de Leninegrado.
O cerco de Leninegrado foi registado não apenas em livros mas também em música. O compositor Dmitri Chostakovich residia na altura em Leninegrado. Começou a trabalhar numa sinfonia imediatamente após o início do ataque, exprimindo as suas ideias sobre a vida soviética e sobre a capacidade do seu povo para derrotar os fascistas. É a sua Sétima Sinfonia, conhecida como Leninegrado.
Tem quatro andamentos. O primeiro é intitulado “Guerra” e inicia-se com música de carácter lírico descrevendo a pacífica vida na URSS antes da invasão fascista. Um solo de violino é interrompido pelo ressoar de um tambor distante e pelo “tema da invasão”, que é repetido doze vezes por um número crescente de instrumentos, aumentando sempre em volume e em estridência, criando um profundo sentimento de mal-estar. Tambores militares ritmam esta secção, que termina com um clamor de sofrimento e horror. Segue-se uma passagem mais calma – um solo de flauta, depois um fagote, chorando os mortos. O acompanhamento é fragmentado, exprimindo o lamento pela gente abatida. Dominam as dissonâncias.
No segundo andamento, “Memórias”, o ambiente muda para tempos mais felizes, algumas melodias de dança, embora uma nota de tristeza esteja também presente.
A música do terceiro andamento, “Largas extensões da nossa terra”, afirma o heroísmo do povo, o seu humanismo, e a grande beleza natural da terra russa. O andamento é um diálogo entre um coral, exprimindo a satisfação gerada pelo esplendor da terra pátria, e a voz solista, os violinos, exprimindo o tormento individua. Tanto o segundo como o terceiro andamento exprimem a convicção de Chostakovich de que “a guerra não destrói necessariamente os valores culturais.”
Chostakovich comentou acerca do andamento final, “Vitória”: “A minha ideia de vitória não é a de algo brutal; será melhor explicada como a vitória da luz sobre as trevas, da humanidade sobre a barbárie, da razão sobre a reacção.” O andamento inicia-se descrevendo, musicalmente, as pessoas trabalhando em tempo de paz, cheio de esperança e de felicidade, a que os tambores e armas de guerra se vão sobrepondo. A música marcha, luta, e resiste.
A vitória não chega facilmente. Chostakovich começa com o ressoar dos tímpanos que concluiu o terceiro andamento e acrescenta-lhe gradualmente outras vozes. A música evolui lentamente em direcção à sua conclusão, com fanfarras dos metais e o estrondo dos címbalos. Força o seu caminho até um brilhante dó maior – a tonalidade da vitória. Todavia, os acordes finais desta magnífica tonalidade contêm um som dolorido. O reconhecimento pleno da realidade, o inimaginável sofrimento da guerra, não permite que a sinfonia termine em simples triunfo.
Chostakovich compôs a maior parte da sinfonia na Leninegrado cercada. Vários meses após o início do bloqueio, e apesar das objecções que colocou, o governo soviético evacuou a família Chostakovich juntamente com outros artistas.
A Sinfonia Leninegrado foi tocada a 9 de Agosto de 1942 na sua cidade natal cercada. A partitura foi transportada por via aérea sobre as linhas nazis. A orquestra tinha apenas quinze músicos, mas foram traduzidos mais da frente de combate.
_____________________________________________
A fotografia que ilustra este artigo é dessa ocasião.
Uma clarinetista que interveio nesta interpretação histórica, Galina Lelyukhina, recordou os ensaios: “Disseram na rádio que todos os músicos sobreviventes estavam convidados. Era muito difícil andar. Eu estava doente com escorbuto e doíam-me muito as pernas. A princípio éramos nove, mas depois chegaram mais. O maestro, Eliasberg, foi trazido de trenó, porque estava muito enfraquecido pela fome.”
A 9 de Agosto de 1942 a sala de espectáculos estava repleta, com as portas e janelas abertas para que os que estavam fora pudessem ouvir. A música foi transmitida por altifalantes nas ruas e na frente de combate, de forma a inspirar a nação inteira. O Exército Vermelho preveniu os planos alemães para impedir o acontecimento bombardeando antecipadamente o inimigo para assegurar as duas horas de silêncio necessárias para o concerto.
Uma sobrevivente do bloqueio, Irina Skripacheva, recorda: “Esta sinfonia teve em nó um enorme impacto. O ritmo induzia um sentimento de elevação, de voo…Ao mesmo tempo sentíamos o ritmo assustador das hordas alemãs. Foi inesquecível e esmagador.”
Setenta e cinco anos depois, tanques e tropas da NATO (alemãs incluídas), instaladas ao longo da fronteira ocidental da Rússia, preparam-se para a guerra.
■ A Sétima Sinfonia de Chostakovich, Leningrado, está disponível em Youtube.
Fonte: http://www.communistpartyofireland.ie/sv/10-leningrad.html
in ODiario.info
Em 22 de Junho de 1941 a Alemanha invadiu a União Soviética. Daí resultou uma mortandade com proporções de holocausto: pereceram 25 milhões de soviéticos, mais de metade do total de mortos na Segunda Guerra Mundial.
Um dos mais horríveis actos de barbárie foi o bloqueio de Leninegrado pelos alemães. Por mais de 900 dias, de 8 de Setembro de 1941 a 27 de Janeiro de 1944, foram cortados todos os abastecimentos e o povo de Leninegrado foi sistematicamente condenado a morrer à fome. Morreu mais de um milhão de cidadãos de Leninegrado.
Avançamos rapidamente até Abril de 2017, quando um fatal ataque terrorista (realizado por grupos mais do que por Estados) tem lugar em S. Petersburgo (Leninegrado). Depois de ataques semelhantes em cidades da Europa Ocidental, e como expressão de solidariedade, a bandeira nacional alemã fora projectada sobre a porta de Brandeburgo, em Berlim. Mas desta vez isso não foi feito porque, segundo o presidente da câmara – nascido em Berlim Leste – S. Petersburgo não tem qualquer “relação especial” com Berlim. É possível que o branqueamento da história tenha feito com que nunca tivesse ouvido falar de Leninegrado.
O cerco de Leninegrado foi registado não apenas em livros mas também em música. O compositor Dmitri Chostakovich residia na altura em Leninegrado. Começou a trabalhar numa sinfonia imediatamente após o início do ataque, exprimindo as suas ideias sobre a vida soviética e sobre a capacidade do seu povo para derrotar os fascistas. É a sua Sétima Sinfonia, conhecida como Leninegrado.
Tem quatro andamentos. O primeiro é intitulado “Guerra” e inicia-se com música de carácter lírico descrevendo a pacífica vida na URSS antes da invasão fascista. Um solo de violino é interrompido pelo ressoar de um tambor distante e pelo “tema da invasão”, que é repetido doze vezes por um número crescente de instrumentos, aumentando sempre em volume e em estridência, criando um profundo sentimento de mal-estar. Tambores militares ritmam esta secção, que termina com um clamor de sofrimento e horror. Segue-se uma passagem mais calma – um solo de flauta, depois um fagote, chorando os mortos. O acompanhamento é fragmentado, exprimindo o lamento pela gente abatida. Dominam as dissonâncias.
No segundo andamento, “Memórias”, o ambiente muda para tempos mais felizes, algumas melodias de dança, embora uma nota de tristeza esteja também presente.
A música do terceiro andamento, “Largas extensões da nossa terra”, afirma o heroísmo do povo, o seu humanismo, e a grande beleza natural da terra russa. O andamento é um diálogo entre um coral, exprimindo a satisfação gerada pelo esplendor da terra pátria, e a voz solista, os violinos, exprimindo o tormento individua. Tanto o segundo como o terceiro andamento exprimem a convicção de Chostakovich de que “a guerra não destrói necessariamente os valores culturais.”
Chostakovich comentou acerca do andamento final, “Vitória”: “A minha ideia de vitória não é a de algo brutal; será melhor explicada como a vitória da luz sobre as trevas, da humanidade sobre a barbárie, da razão sobre a reacção.” O andamento inicia-se descrevendo, musicalmente, as pessoas trabalhando em tempo de paz, cheio de esperança e de felicidade, a que os tambores e armas de guerra se vão sobrepondo. A música marcha, luta, e resiste.
A vitória não chega facilmente. Chostakovich começa com o ressoar dos tímpanos que concluiu o terceiro andamento e acrescenta-lhe gradualmente outras vozes. A música evolui lentamente em direcção à sua conclusão, com fanfarras dos metais e o estrondo dos címbalos. Força o seu caminho até um brilhante dó maior – a tonalidade da vitória. Todavia, os acordes finais desta magnífica tonalidade contêm um som dolorido. O reconhecimento pleno da realidade, o inimaginável sofrimento da guerra, não permite que a sinfonia termine em simples triunfo.
Chostakovich compôs a maior parte da sinfonia na Leninegrado cercada. Vários meses após o início do bloqueio, e apesar das objecções que colocou, o governo soviético evacuou a família Chostakovich juntamente com outros artistas.
A Sinfonia Leninegrado foi tocada a 9 de Agosto de 1942 na sua cidade natal cercada. A partitura foi transportada por via aérea sobre as linhas nazis. A orquestra tinha apenas quinze músicos, mas foram traduzidos mais da frente de combate.
_____________________________________________
A fotografia que ilustra este artigo é dessa ocasião.
Uma clarinetista que interveio nesta interpretação histórica, Galina Lelyukhina, recordou os ensaios: “Disseram na rádio que todos os músicos sobreviventes estavam convidados. Era muito difícil andar. Eu estava doente com escorbuto e doíam-me muito as pernas. A princípio éramos nove, mas depois chegaram mais. O maestro, Eliasberg, foi trazido de trenó, porque estava muito enfraquecido pela fome.”
A 9 de Agosto de 1942 a sala de espectáculos estava repleta, com as portas e janelas abertas para que os que estavam fora pudessem ouvir. A música foi transmitida por altifalantes nas ruas e na frente de combate, de forma a inspirar a nação inteira. O Exército Vermelho preveniu os planos alemães para impedir o acontecimento bombardeando antecipadamente o inimigo para assegurar as duas horas de silêncio necessárias para o concerto.
Uma sobrevivente do bloqueio, Irina Skripacheva, recorda: “Esta sinfonia teve em nó um enorme impacto. O ritmo induzia um sentimento de elevação, de voo…Ao mesmo tempo sentíamos o ritmo assustador das hordas alemãs. Foi inesquecível e esmagador.”
Setenta e cinco anos depois, tanques e tropas da NATO (alemãs incluídas), instaladas ao longo da fronteira ocidental da Rússia, preparam-se para a guerra.
■ A Sétima Sinfonia de Chostakovich, Leningrado, está disponível em Youtube.
Fonte: http://www.communistpartyofireland.ie/sv/10-leningrad.html
in ODiario.info
quinta-feira, 1 de junho de 2017
W.C.
Neste país onde ninguém sabecomo obram as musas,
já dizia o outro,
fazer versos realmente versos,
que sigam o espasmo do ânus provecto
dessas criaturas fúteis, decantadas,
ainda é e será muito difícil.
Existe sempre um braço etéreo
que puxa o autoclismo
no momento exacto da defecação.
Ouve-se um ruído,
alguém pergunta ao outro o que se passa:
«É o som das águas que bate na garganta.»
Aliviados então os corações repousam
na sala de visitas da casa devassada
a que chamam d'alma.
Armando Silva Carvalho, in 'Sentimento de um Acidental'
Morreu o poeta Armando Silva Carvalho
O poeta e tradutor Armando Silva Carvalho morreu hoje de manhã, nas instalações da Santa Casa da Misericórdia das Caldas da Rainha, vítima de doença prolongada, anunciou, em comunicado, a Porto Editora.
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