O sol adormeceu esta tarde nas nuvens. Amanhã hão de vir borrasca e tarde e noite; A aurora e seus clarões de vapor obstruídos; Depois noites e dias, todo o tempo eterno.
Passarão estes dias – passarão em turba Sobre a face do mar, sobre a face dos montes, Sobre os rios de prata e o bosque em rola Como um hino confuso de mortos que amamos. Como a face das águas e a fronte das montanhas. Enrugadas e moças, e os bosques sempre verdes jovens serão; e o rio das campinas Traz dos montes o fluxo que oferece aos mares.
Mas eu que cada vez mais curvo a minha fronte, Eu passo e estimulado pelo sol alegre. Logo mais partirei, bem no meio da festa, E sem que nada falte ao mundo imenso e belo. .
Le soleil s’est couché ce soir dans les nuées… Le soleil s’est couché ce soir dans les nuées. Demain viendra l’orage, et le soir, et la nuit ; Puis l’aube, et ses clartés de vapeurs obstruées ; Puis les nuits, puis les jours, pas du temps qui s’enfuit !
Tous ces jours passeront; ils passeront en foule Sur la face des mers, sur la face des monts, Sur les fleuves d’argent, sur les forêts où roule Comme un hymne confus des morts que nous aimons.
Et la face des eaux, et le front des montagnes, Ridés et non vieillis, et les bois toujours verts S’iront rajeunissant; le fleuve des campagnes Prendra sans cesse aux monts le flot qu’il donne aux mers.
Mais moi, sous chaque jour courbant plus bas ma tête, Je passe, et, refroidi sous ce soleil joyeux, Je m’en irai bientôt, au milieu de la fête, Sans que rien manque au monde, immense et radieux! – Victor Hugo, em “Obras completas. Victor Hugo”. [tradução Jamil Almansur Haddad]. São Paulo: Editora das Américas, 1960.
Pablo Ruiz Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881 — Mougins, 8 de abril de 1973), foi um pintorespanhol, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo que passou a maior parte da sua vida na França. É conhecido como o co-fundador do cubismo- ao lado de Georges Braque -, inventor da escultura construída,[1][2]
o inventor da colagem e pela variedade de estilos que ajudou a
desenvolver e explorar. Dentre as suas obras mais famosas estão os
quadros cubistas As Meninas D’Avignon (1907) e Guernica (1937), uma
pintura do bombardeio alemão de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola.
Picasso, Henri Matisse e Marcel Duchamp são considerados os três artistas que mais realizaram desenvolvimentos revolucionários nas artes plásticas nas décadas iniciais do século XX, responsável por importantes avanços na pintura, na escultura, na gravura e nas cerâmicas.[3][4][5][6]
O pintor de Málaga demonstrava talento artístico desde jovem,
pintando de forma realista por toda a sua infância e adolescência.
Durante a primeira década do século XX, o seu estilo mudou graças aos
seus experimentos com diferentes teorias, técnicas e ideias. Sua obra
geralmente é classificada em períodos. Enquanto os nomes de muitos dos
seus períodos finais são controversos, os períodos mais aceitos da sua
obra são o período azul (1901-1904), o período rosa (1904-1906), o período africano (1907-1909), o cubismo analítico (1909-1912) e o cubismo sintético (1912-1919).
Excepcionalmente prolífico durante a sua longa vida, Picasso
conquistou renome universal e imensa fortuna graças às suas conquistas
artísticas revolucionárias, tornando-se uma das mais conhecidas figuras
da arte do século XX.
O interesse duradouro de Karl Marx por arte e literatura não é tão
notório, ao menos entre o grande público, quanto sua
apaixonada inclinação pela investigação dos temas econômicos e políticos
ou históricos e filosóficos.
Contudo em seus anos como universitário, junto aos estudos de
história e filosofia, as questões estéticas foram temas de grande
interesse para um então jovem Marx. Inclusive levando-o a acompanhar os
cursos de Schlegel sobre literatura antiga e elaborar um esboço-proposta
de livro sobre Balzac.
No começo de 1842 Marx começa a se debruçar sobre o tema da arte de forma mais sistemática. Os ensaios da época, Sobre a Arte Religiosa e Sobre os Românticos, foram o início de uma relação longeva porém esquecida por grande parte dos que se interessam pela obra do autor renano. A herança de Marx
Os escritos citados se perderam um ano depois de um esboço inicial de
trabalho sobre as questões da arte. Marx teve que deixar de lado seus
estudos, devido ao frenesi de sua carreira jornalística e seu exílio em
Paris. Mas seu afastamento do tema não durou muito.
Já em 1844 seu interesse ressurge com vigor, como transparece nas páginas dos Manuscritos Econômicos-Filosóficos. No texto, Marx debate suas influências predominantes, Hegel e Feuerbach, e como elas marcaram suas percepções estéticas.
Em uma interpretação algo ligeira podemos enxergar nesse movimento um
jovem Marx ainda influenciado pelas ideias contraditórias de seu legado
filosófico. Por um lado temos o caráter grandioso do sistema hegeliano,
que via na arte uma façanha da consciência humana, uma manifestação do
espírito, uma diferenciação do homem para com a natureza.
Esse descontentamento do homem com sua natureza, tão bem argumentado
por Hegel, leva à distinção do belo natural e do belo artístico. Não
iremos nos aprofundar agora sobre as concepções hegelianas a respeito do
belo. Mas é importante, minimamente, demarcar as influências de Marx
para verificar alguns caminhos trilhados.
Já por outro lado temos, em Feuerbach, uma produção assistemática e
desagregada sobre o tema. Além de não ter propriamente algo como um
sistema filosófico o autor se diferenciava claramente de Hegel, como já
sabemos, pela não-aceitação da primazia do espírito. É a forma
materialista da expressão feurbachiana o que interessava ao jovem Marx e
ao feuerbachianismo da esquerda neohegeliana.
Segundo ele: “Em consequência da abstração do sensível que é seu
princípio, ela [a intuição] reduziu a qualidade sensível a uma simples
determinação formal, a filosofia especulativa concebeu a arte e a
religião não à verdadeira luz, à luz da realidade, mas no luscofusco da
reflexão: arte é Deus na determinação formal da intuição, a religião é
Deus na determinação formal da representação.”
No sentido oposto do hegeliano a percepção do sensível por Feuerbach
pode ser entendida de forma contraditória e parcamente desenvolvida. Seu
deslumbramento pela natureza, como belo, alimenta o caráter
problemático de seu pensamento, mas sua crítica à desvalorização do
mundo material não é uma conquista secundária para uma crítica crítica
ao idealismo de Hegel.
Mais tarde Marx irá cada veze mais tomar distância crítica da
influência dos dois autores, inclusive sendo um grande objetor dos
mesmos. O caminho de Marx para suas próprias concepções em arte estava
em pleno processo de pavimentação.
A arte como práxis
Diferentemente dos autores citados as questões estéticas levantadas
por Marx não são apenas ilustrações de erudição secundárias ou
marginais. Em suas elaborações a arte ocupa um lugar chave como
integrante das suas novas elaborações teóricas globais, uma forma nova
de compreender o mundo.
Ao longo dos Manuscritos podemos enxergar e apreciar o
pensamento econômico de Marx que, de forma dialética, se conecta com
suas considerações sobre a arte. Para a vulgata economicista e os
preconceitos ideológicos de parte de sua fortuna crítica esse tipo de
entendimento pode ser visto com algo de estranhamento. Contudo ninguém
menos do que István Mészáros compreende ser impossível compreender a significação de seu enunciado sobre as questões estéticas sem levar em conta os seus liames econômicos.
Encontramos nos Manuscritos um Marx empenhado em descobrir
na crítica da economia, na crítica da política e na crítica da
filosofia, tanto quanto na crítica da arte, um sentido plenamente
humano. O conceito que desenvolve de alienação serve perfeitamente
à ideia de arte como parte fundamental da produção humana.
Para Marx o trabalho é uma atividade material de mediação na relação
fundamental homem-natureza. Enquanto mediação cria o mundo dos objetos.
Esse mundo dos objetos, por sua vez extraído da natureza e
modificado segundo o pôr-teleológico dos homens, ou sua
prévia-ideação, pode então criar novos significados. A objetivação do
homem, da vida mesma da espécie humana, é uma questão preponderante para
entendemos a distância desse Marx para com suas antigas influências
filosóficas.
A arte e a liberdade
Com essa compreensão a necessidade da arte seria um desdobramento da
centralidade do trabalho no processo mesmo do homem se fazer homem. O
trabalho e a arte são inseridos no desenvolvimento a um só
tempo material e não-material que separa o homem da natureza que ele
busca transformar em seu objetivo de a moldar de acordo com seus
interesses essenciais. Se é o homem demiurgo do próprio homem é na raiz
humana que devem ser buscadas suas misérias e riquezas próprias.
Como forma de objetivar o ser social a arte possibilitou ao homem um
novo critério de produção de si, do mundo, da vida. Não se tratava de
satisfazer tão-somente as necessidades do estômago, por assim dizer,
mas, também, da fantasia. Porque o homem se fez homem pudemos passar,
enquanto gênero humano mundialmente constituído, a produzir segundo o
critério autotélico das leis da beleza estética.
Para além da metafísica hegeliana ou das mistificações feurbachianas
foi possível, a partir de Marx, compreender a arte não além ou aquém da
natureza humana e da humanidade natural. A crítica de duplo caráter é
simultaneamente dirigida aos pontos mais altos (e baixos) alcançados
pelo idealismo e o materialismo de sua época histórica.
Posteriormente, e sob os ombros de gigantes, autores como Leon
Trotsky e György Lukács, Adorno e Benjamin, Bloch e Marcuse, Gramsci e
Vigotski, entre muitos outros, conseguiram se debruçar de forma ainda
mais consistente sobre a ideia mesma de “leis da arte”, estética e
congêneres.
Ligada ao processo de autoformação da humanidade, a arte não deve ser
vista como uma contemplação desinteressada, nem como uma celebração
diáfana, ou qualquer coisa parecida. No campo dos sentidos humanamente
constituídos a arte possui uma ligação essencial com a história social e
material e por isso podemos afirmar que o valor de uma pintura, por
exemplo, pode ser pensado de acordo com o momento histórico-social em
que a obra foi criada (ainda que não se reduza ao mesmo).
A autolimitação que o mundo dos homens enfrenta devido a seu caráter
utilitarista, instrumental e pragmático, a própria sociabilidade
produtora de mercadorias, prejudica uma qualquer clareza da relação do
homem com sua própria essência. Não à-tôa Marx afirma: “se queres
desfrutar da arte há necessidade de uma educação artística” e “é a
música que desperta no homem a sensibilidade musical”. O caráter
material da arte é reafirmado de maneira prática.
Mas é claro que Marx não trilhou este caminho pioneiro sem
contradições. Em sua crítica ao belo natural, Marx às vezes se assemelha
às concepções hegelianas, demostrando, mais uma vez, sua concepção do
homem como superior à natureza e um transformador de sentidos que
produzem coisas e objetos. O interesse de Marx pela questão artística e
literária tinha como pressuposto a reinvenção da liberdade humana
enquanto autodeterminação coletiva.
Considerações finais
Karl Marx, de fato, nunca viria a escrever um livro ou levar adiante
um estudo orgânico exclusivamente voltado aos problemas literários e
artísticos. Os seus conhecimentos sobre esta vasta área são, contudo,
inegáveis. Trata-se de uma concepção de mundo total na qual não pode
haver separação entre mãos e cabeça, natureza e humanidade,
civilização e cultura.
Como muitas outras correntes de pensamento o marxismo, ao longo do
tempo, foi criando a sua própria teoria estética. Até hoje nomes como
Arnold Hauser e Terry Eagleton são literatura obrigatória em disciplinas
tais como História da Arte e Teoria Literária até mesmo em ambientes
hostis ao marxismo. Isso diz algo a respeito do valor de seu discurso.
À medida que se enfrentou com novos tempos e espaços os expoentes
desta corrente foram construindo todo um complexo de ideias e programas a
respeito do assunto que compreende e ultrapassa a natureza e os limites
dos escritos do então jovem Marx dos anos 1840.
É importante lembrar que o marxismo não possui uma teoria acabada de
mundo nem busca ideias fechadas sobre fenômenos. Todo o contrário. Não
fosse assim e não seria nem crítico nem revolucionário. E, além disso,
os seguidores de Marx foram muitos e muito diversos. Trata-se de toda
uma constelação.
De um modo ou de outro a preocupação comum tem a ver com conectar às
diferentes esferas da vida a um projeto coletivo de auto-superação da
pré-história da humanidade, qual seja, o atual estágio de exploração do
homem pelo próprio homem. Das diversas fraturas sofridas pelo marxismo
ao longo do Século 20 – estrutura/superestrutura, economia/política,
cultura/sociedade, teoria/prática – talvez uma das menos combatidas até
hoje não deixe de ser aquela que separa arte e revolução.
Referências
FREDERICO, Celso. A Arte em Marx. Revista Novos Rumos n.42 (19), São Paulo, 2004.
MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos: terceiro manuscrito. São Paulo: Abril, 1974.
EAGLETON, Terry A Ideologia da Estética. Rio de Janeiro, Zahar, 1990.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Cultura, Arte e Literatura. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
MÉSZÁROS, István. A Teoria da Alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2006.