Expresso
A casa de Rembrandt é em Londres. A mais original, humana e reveladora exposição sobre o pintor
11.01.2020 às 22h31
Nos 350 anos da morte de Rembrandt, a Dulwich Art Gallery apresenta em Londres uma exposição imperdível. O Expresso viu-a
Em
Rembrandt, tudo o que luz é ouro. Em 1639, aos 33 anos, o pintor
comprava a casa do nº 4 da Breestraat (rua Larga), em Amesterdão, por 13
mil florins, uma fortuna à época. Cinco pisos: cave, sobreloja, dois
andares de elevado pé-direito e águas-furtadas. (Para termos de
comparação, lembro que um par de sapatos custava então meio florim e que
em 1626 os holandeses tinham convencido os lenapes — americanos nativos
— a venderem-lhes a ilha de Manhattan pelo equivalente em géneros de 60
florins, isto é, cerca de 810 euros em moeda atual.) Rembrandt não
comprou a casa a pronto: pagou um quarto do preço e o resto seria
satisfeito a prestações, com juros, ao longo dos anos. O dinheiro
reluzia mas preocupava. Os impostos eram muitos: na travessia diária de
pontes, portas e comportas, na compra e venda de animais, no emprego de
serviçais, nos petiscos servidos em tabernas, na posse de casa (uma
espécie de IMI para pagar o sistema de guarda noturna), etc.
Filho
de um moleiro e da filha de um padeiro, Rembrandt van Rijn (1606-69) — o
apelido significa ‘do Reno’, o nome do moinho paterno — já era um
pintor credenciado e com uma corte de discípulos quando se mudou de
Leiden, onde nascera, para Amesterdão em 1631. Três anos depois casava
com Saskia von Uylenburgh, prima de Hendrick, pintor e negociante de
arte que acolhera Rembrandt em Amesterdão. Com janelas altas viradas a
Norte, a nova casa proporcionava a iluminação fria preferida pelos
artistas. Seria a sua ‘casa de sonho’, situada num bairro de pintores,
editores e judeus sefarditas oriundos de Portugal com nomes como
Andrade, Castro, Lopes, Matos, Rodrigues ou Pinto. A Sinagoga Portuguesa
abriu no mesmo ano nas traseiras da Breestraat, sendo mais tarde (1675)
substituída pelo esplêndido edifício hoje célebre em todo o mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário