domingo, 12 de janeiro de 2020


Expresso

A casa de Rembrandt é em Londres. A mais original, humana e reveladora exposição sobre o pintor

11.01.2020 às 22h31

Nos 350 anos da morte de Rembrandt, a Dulwich Art Gallery apresenta em Londres uma exposição imperdível. O Expresso viu-a

Um autorretrato de Rembrandt datado de 1642
Royal Collection Trust/Her Majesty Queen Elizabeth II
Em Rembrandt, tudo o que luz é ouro. Em 1639, aos 33 anos, o pintor comprava a casa do nº 4 da Breestraat (rua Larga), em Amesterdão, por 13 mil florins, uma fortuna à época. Cinco pisos: cave, sobreloja, dois andares de elevado pé-direito e águas-furtadas. (Para termos de comparação, lembro que um par de sapatos custava então meio florim e que em 1626 os holandeses tinham convencido os lenapes — americanos nativos — a venderem-lhes a ilha de Manhattan pelo equivalente em géneros de 60 florins, isto é, cerca de 810 euros em moeda atual.) Rembrandt não comprou a casa a pronto: pagou um quarto do preço e o resto seria satisfeito a prestações, com juros, ao longo dos anos. O dinheiro reluzia mas preocupava. Os impostos eram muitos: na travessia diária de pontes, portas e comportas, na compra e venda de animais, no emprego de serviçais, nos petiscos servidos em tabernas, na posse de casa (uma espécie de IMI para pagar o sistema de guarda noturna), etc.
Filho de um moleiro e da filha de um padeiro, Rembrandt van Rijn (1606-69) — o apelido significa ‘do Reno’, o nome do moinho paterno — já era um pintor credenciado e com uma corte de discípulos quando se mudou de Leiden, onde nascera, para Amesterdão em 1631. Três anos depois casava com Saskia von Uylenburgh, prima de Hendrick, pintor e negociante de arte que acolhera Rembrandt em Amesterdão. Com janelas altas viradas a Norte, a nova casa proporcionava a iluminação fria preferida pelos artistas. Seria a sua ‘casa de sonho’, situada num bairro de pintores, editores e judeus sefarditas oriundos de Portugal com nomes como Andrade, Castro, Lopes, Matos, Rodrigues ou Pinto. A Sinagoga Portuguesa abriu no mesmo ano nas traseiras da Breestraat, sendo mais tarde (1675) substituída pelo esplêndido edifício hoje célebre em todo o mundo.

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