sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Maiakóvski

 

Vladimir Maiakovski


Vladimir Maiakovski
Mayakovski em 1924
Pseudônimo(s) Vladimir Mayakovsky
Nascimento Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (em russo: Владимир Владимирович Маяковский)
19 de julho de 1893
Baghdati, Império Russo
Morte 14 de abril de 1930 (36 anos)
Moscou, URSS
Sepultamento Cemitério Novodevichy
Nacionalidade russo
Cidadania Império Russo, União Soviética
Cônjuge Lilya Brik
Filho(s) Patricia Thompson
Alma mater Universidade Estatal Stroganov de Artes e Indústria de Moscovo, Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscovo
Ocupação poeta, dramaturgo e teórico
Prêmios
  • Prêmio Lenin Komsomol
Género literário Futurismo russo
Cubofuturismo
Obras destacadas 33 Poesias
Movimento estético Futurismo russo, futurismo
Causa da morte Perfuração por arma de fogo
Página oficial
http://v-v-mayakovsky.ru/
Assinatura

Vladimir Vladimirovitch Maiakovski (em russo: Владимир Владимирович Маяковский; Baghdati, Império Russo, 19 de julho de 1893Moscou, Rússia, 14 de abril de 1930), também chamado de "o poeta da Revolução", foi um poeta, dramaturgo e teórico russo, frequentemente citado como um dos maiores poetas do século XX, ao lado de Ezra Pound e T.S. Eliot, bem como "o maior poeta do futurismo".[1][2]

Biografia

Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky nasceu e passou a infância na aldeia de Baghdati, nos arredores de Kutaíssi, na Geórgia, Império Russo.[3][4] Lá cursou o ginásio e, após a morte súbita do pai, a família ficou na miséria e transferiu-se para Moscou, onde Vladimir continuou seus estudos.[3]

Fortemente impressionado pelo movimento revolucionário russo e impregnado desde cedo de obras socialistas, ingressou aos quinze anos na organização bolchevique do Partido Social-Democrático Operário Russo. Detido em duas ocasiões, foi solto por falta de provas, mas em 1909-1910 passou onze meses na prisão. Entrou na Escola de Belas Artes, onde se encontrou com David Burliuk, que foi o grande incentivador de sua iniciação poética. Os dois amigos fizeram parte do grupo fundador do assim chamado cubo-futurismo russo, ao lado de Khlebnikov, Kamiênski e outros.[5] Foram expulsos da Escola de Belas Artes. Procurando difundir suas concepções artísticas, realizaram viagens pela Rússia.

Após a Revolução de Outubro, todo o grupo manifestou sua adesão ao novo regime. Durante a Guerra Civil, Mayakovsky se dedicou a desenhos e legendas para cartazes de propaganda e, no início da consolidação do novo Estado, exaltou campanhas sanitárias, fez publicidade de produtos diversos, etc. Fundou em 1923 a revista LEF (de Liévi Front, Frente de Esquerda), que reuniu a “esquerda das artes”, isto é, os escritores e artistas que pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social.[3]

Fez numerosas viagens pelo país, aparecendo diante de vastos auditórios para os quais lia os seus versos. Viajou também pela Europa Ocidental, México e Estados Unidos. Entrou frequentemente em choque com os "burocratas" e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. Foi homem de grandes paixões, arrebatado e lírico, épico e satírico ao mesmo tempo. Era fanático pela equipe de futebol Spartak Moscou.[carece de fontes]

Oficialmente, suicidou-se com um tiro em 1930, sem que isto tivesse relação alguma com sua atividade literária e social.[6][7][8] Tal fato tem sido questionado, pois na época o poeta estaria sendo pressionado pelos programas oficiais que desejavam instaurar uma literatura simplista e dita realista, dirigidos por Viatcheslav Molotov, que teria perseguido antigos poetas revolucionários como Maiakovski.[3][9] Em vista disso, aponta-se a possibilidade real de um suicídio forjado por motivos políticos. [10][6]

Obra

Sua obra, profundamente revolucionária na forma e nas idéias que defendeu, apresenta-se coerente, original, veemente, una. A linguagem que emprega é a do dia a dia, sem nenhuma consideração pela divisão em temas e vocábulos “poéticos” e “não-poéticos”, a par de uma constante elaboração, que vai desde a invenção vocabular até o inusitado arrojo das rimas.[3][4]

Fazendo parte do grupo "Hylaea", que daria origem ao chamado cubo-futurismo, seu primeiro livro de poemas, no entanto, seria de estética influenciada pelo simbolismo, e nunca chegaria a público, tendo sido escrito quando o poeta estava na prisão e apreendido pela polícia no momento da sua libertação.[11][12]

Aproximando-se de David Burliuk na década de 1910, passa a escrever em um estilo aproximado do cubismo e do futurismo, influenciado pelo primitivismo eslavista e pela linguagem transracional de Velimir Khlebnikov e outros, repleto de imagística urbana e surpreendente, com um certo ar impressionista e, ainda, simbolista. Esta fase de sua poesia é a mais apreciada por poetas como Boris Pasternak, em função de ainda manter alguns recursos simbolistas e métrica rigorosa em alguns poemas.[3][4] A Nuvem de Calças é um de seus poemas mais conhecidos desse período.

Em seguida, já na década de 1920, sua poesia, apesar de haver uma continuidade no que diz respeito à inovação rítmica, a rimas inusitadas, ao uso da fala cotidiana e mesmo de imagens inusitadas, assume um tom direto.[13]

Ao mesmo tempo, o gosto pelo desmesurado, o hiperbólico, alia-se em sua poesia desta época à dimensão crítico-satírica. Criou longos poemas e quadras e dísticos que se gravam na memória. Traduções sem preocupação com a forma dos poemas produzidos nesta época têm dado ao público uma imagem errônea do poeta, fazendo-o parecer um "gritador".[13]

Na realidade, era um poeta rigoroso, que chegava a reescrever sessenta vezes o mesmo verso e recolhia muito material informativo e linguístico para posterior uso nos seus poemas. Criou também ensaios sobre a arte poética e artigos curtos de jornal; peças de forte sentido social e rápidas cenas sobre assuntos do dia; roteiros de cinema arrojados e fantasiosos e breves filmes de propaganda.[13]

Tem exercido influência profunda em todo o desenvolvimento da poesia russa moderna, bem como sobre outros poetas e movimentos no mundo inteiro, como Hamid Olimjon, Nazım Hikmet, Hedwig Gorski, Vasko Popa. O cantor e compositor João Bosco gravou sua poesia E Então, Que Quereis...? nos álbuns Bosco, de 1989, e Acústico MTV (João Bosco), de 1992, no qual passou a incluir a poesia como prelúdio da canção Corsário.


Vladímir Maiakóvski (traduções e notas por André Nogueira)

Foto: Maiakóvski declama para os auditórios da União Soviética em 1930. Ao fundo uma faixa: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!” Obs.: os desenhos nesta publicação são cartazes de Maiakóvski projetados para a ROSTA, Agência Telegráfica Russa. Eles não constituem originalmente ilustrações dos poemas que se seguem.
   

15 POEMAS DE VLADÍMIR MAIAKÓVSKI

Traduções e notas: André Nogueira (2017)


O IMPERADOR

Lembro —
……….  …isso foi talvez na páscoa,
ou quem sabe —
…………………..no natal.
Estava limpa
………………e preparada
……………………………..toda a praça
para a marcha
 ……………….triunfal.
Os soldados,
……………. .desde os rasos
………………………………..aos tenentes-coronéis:
na Tviérskaia se vê
………………………do pelotão
……………………………………fileira tensa.
Oficial torce o bigode,
…………………………grita e bate com os pés:
— Às suas ordens! —
………………  ………eles batem continência.
De repente —
………………. a carruagem a deslizar,
…………………………………………….sob a capota
com bem asseada barba
…………………………….está sentado um militar,
quatro filhotas
………………..como tábuas
………………………………..atrás dele
…………….  ……………………………..a acenar.
Sobre o asfalto
…………………à via larga,
como sobre
  ……………as nossas costas,
………………………………….o cortejo
e hasteados para o alto
…………………………..os brasões e as águias —
eu da turba
…………….tudo vejo.
As senhoras se empurram,
……………………………….toca o sino na campana
e encobre
…………… Urra, urra! —
……………………………….os gritinhos com os quais
elas recebem sua nobre
……………………………majestade Nikolai,
“nosso tsar-imperador,
..  ……………………….de toda a Rússia o soberano!”

A neve cai
…………..sobre os telhados,
………………………………….a nós todos soterrando.
A se arrastar pelos Urais,
…………………………….pela extensão siberiana,
pelo Iset
…………de margens íngremes e minas,
pelo Iset
…………das ventanias glaciais —
essa intempérie insana
. …………    …………..em Sverdlóvsk termina. 1
O trenó do comitê
……………..   …..já a cidade
……………….    ……………..ultrapassa.
Por azar,
  ………..a neve cobre
.. ……………………….o mundo todo —
não se vê a coisa alguma,
…  ………………………….só dos lobos
o seu rastro
…………….atrás da caça.
Estacionamos,
………………..finalmente,
………………………………há vinte verstas.
O exército dos cedros
.. … …………………..se perfila
… … ……………………………..até ao longe.
Paramánov à frente,
……. ………………..penetramos na floresta,
caminhamos pela trilha,
…. …. …………………..para onde?
Mais pesado
………  …….que da mina
…..  ……   ………………..a bruta pedra,
um tesouro
………… . .nunca achado.
Toda a glória e majestade
……………………………..do tsar-imperador
em que buraco
…….. ……  …..se esconde…
Dentre os cedros
……………………uma marca
……. ………   ………………..de machado…
— Aqui!? —
……………..Não.
……………………Pelo menos por enquanto.
Nossas botas
……………….que escavem
………………………………..noutro canto.
Nalgum lugar
………………..sob os cascalhos
……………………………………..da estrada,
sob as raízes
…… ……….. dessas árvores,
a última estada
……………… …de seus míseros
……………………………………..cadáveres.
No alto,
………..sobre as nuvens hasteado,
o dia rápido amanheça,
e uma ave
 …………..malfazeja —
negro corvo
……..  ……..de uma única cabeça —
lamentando-se pragueja.

Vos seduz
……………o esplendor
…………………………..de uma coroa?
Descobris
…………..como essa luz
…………………………….vos ilumina,
pela última das vezes,
…………………………quando enfim
.   …  …………………………………..se amontoa
a sepulta realeza
……… …………..no escuro destas minas.

Sverdlovsk, 1928

1 Em janeiro de 1928 Vladímir Maiakóvski visitou Sverdlóvsk, nome pelo qual foi rebatizada, em 1924, a cidade de Ekaterinburg. Nessa cidade foram fuzilados o último imperador da Rússia, Nikolai Romanov (o tsar Nicolau II) e sua família: a tsarina Aleksandra, o tsariévitch Aleksei, as quatro filhas, Anastássia, Maria, Tatiana e Olga; também os empregados e amigos que os acompanhavam no exílio. Sabe-se que isso aconteceu em 17 de julho de 1918, na Casa Ipátiev, residência onde estavam feitos prisioneiros. Mas ao longo de muitas décadas não se soube ao certo a localidade de seus corpos. Suspeitava-se que os tivessem lançado no fosso de uma mina abandonada, às margens do rio Iset, ou enterrado na floresta de Koptiaki, à beira da estrada que dava acesso à cidade.

Maiakóvski atendeu ao convite de Anatoli Ivánovitch Paramánov, presidente do comitê executivo distrital de Sverdlóvsk, para conhecer a cidade, onde chegou no dia 27 de janeiro. Durante os três dias de sua estadia, participou de reuniões com os estudantes e leu seus poemas aos trabalhadores das indústrias e mineiros. Teve tempo, também, de conhecer a Casa Ipátiev. Paramánov disse saber o local onde haviam enterrado o corpo do “Imperador” e Maiakóvski o quis ver pessoalmente. O trenó do comitê executivo os levou pela trilha nevada ao meio da floresta entre os cedros com marcações que indicariam o local exato. No entanto, resta dúvidas se nesse dia realmente encontraram o que procuravam. A Pavel Lavut, seu amigo e secretário, Maiakóvski confessou:

“Claro que ver a sepultura do tsar não tem a mínima importância. E, para falar a verdade, nada há para se ver. É difícil de encontrar, encontram ela por sinais, sendo um segredo conhecido só por certo grupo de pessoas. Mas para mim o que importa é passar a sensação de que, nesse lugar, partiu daqui o último réptil rastejante da última dinastia, que tanto sangue bebeu ao longo dos séculos”. (Lavut, 1963, p. 182)

Depois do preâmbulo, em que recorda um desfile, pela rua Tviérskaia em Moscou, da família Románov antes de sua queda, na seqüência do poema Maiakóvski registra sua visita à sepultura do imperador em Sverdlóvsk. A imagem do corvo de uma única cabeça, ironia com o símbolo da águia bicéfala, que estampava os brasões do Império russo, sela a sinistra moral da história (Maiakóvski aqui sutilmente parafraseia um poema de Liérmontov, O navio fantasma, que fala da sepultura de Napoleão na ilha de Santa Helena); no entanto, nas anotações do poeta existe o rascunho de uma versão diferente para o final, que soa muito ao contrário da versão escolhida para a publicação:

Com certeza que levanto as duas mãos
e voto contra.
Ousa as tuas levantar
para pôr fim à vida humana.
Eu não quero errar na curva.
Eles vivos poderiam ser mantidos num zoológico
entre a jaula da hiena e a do lobo.
Se o mínimo sentido não faziam como vivos,
tanto menos eles fazem sendo mortos desse jeito.
O jogo da história nós viramos,
para sempre se despeçam do que é velho:
um comunista, sendo homem,
não terá as suas mãos sujas de sangue.

ИМПЕРАТОР

Помню —
…………..то ли пасха,
то ли —
……. …рождество:
вымыто
…………и насухо
расчищено торжество.
По Тверской
……………….шпалерами
………………………………стоят рядовые,
перед рядовыми —
………………………..пристава.
Приставов
…………….глазами
……………………….едят городовые:
— Вае благородие,
……………………….арестовать? —
Крутит
………..полицмейстер
…………………………….за уши ус.
Пристав козыряет:
………………………. Слушаюсь! —
И вижу —
……………катится ландо,
и в этой вот ланде
сидит
………военный молодой
в холеной бороде.
Перед ним,
………………как чурки,
четыре дочурки.
И на спинах булыжных,
……………………………..как на наших горбах,
свита
…….. за ним
………………в орлах и в гербах.
И раззвонившие колокола
расплылись
………………в дамском писке:
Уррра!
………..царь-государь Николай,
император
…………….и самодержец всероссийский!

Снег заносит
………………..косые кровельки,
серебрит
…………..телеграфную сеть,
он схватился
………………..за холод проволоки
и остался
……………на ней
…………………….висеть.
На вбирь,
…………..на весь Урал
метельная мура.
За Исетью,
…………….где шахты и кручи,
за Исетью,
…………….где ветер свистел,
приумолк
……………исполкомовский кучер
и встал
…………на девятой версте.
Вселенную
……………..снегом заволокло.
Ни зги не видать —
………………………..как на зло.
И только
………….следы
  …………………от брюха волков
по следу
…………..диких козлов.
Шесть пудов
…………………(для веса ровного!),
будто правит
…………………кедров полком он,
снег хрустит
.. … …………..под Парамоновым,
председателем
………………….исполкома.
Распахнулся весь,
роют
……..снег
…………..пимы.
— Будто было здесь?!
Нет, не здесь.
…………………Мимо! —
Здесь кедр
……………..топором перетроган,
зарубки
………….под корень коры,
у корня,
………….под кедром,
………………………….дорога,
а в ней —
…….. …..император зарыт.
Лишь тучи
…………….флагами плавают,
да в тучах
……………птичье вранье,
крикливое и одноглавое,
ругается воронье.

Прельщают
……………..многих
……………………….короны лучи.
Пожалте,
… ……….дворяне и шляхта,
корону
………..можно
…………………у нас получить,
но только
……………вместе с шахтой.

Свердловск, 1928

[O rascunho não publicado da última estrofe]:

Я вскину две моих пятерни
Я сразу вскину две пятерни
Что я голосую против
Я голосую против
Спросите руку твою протяни
казнить или нет человечьи дни
не встать мне на повороте
Живые так можно в зверинец их
Промежду гиеной и волком
И как не крошечен толк от живых
от мертвого меньше толку
Мы повернули истории бег
Старье навсегда провожайте
Коммунист и человек
Не может быть кровожаден

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