quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Para uma determinada corrente interpretativa do contemporâneo, o capitalismo nesta fase dita neoliberal que se iniciou triunfalmente para entrar na sua crise geral mais grave, a produção "imaterial", ou cultural, é o vector produtivo ao qual se agrra o capital para se reproduzir e acumular.

 


Sobre o papel desempenhado pela cultura no projeto neoliberal

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ArtigosSobre o papel desempenhado pela cultura no projeto neoliberalFábio Luiz Tezini Crocco1
Resumo:
Este artigo objetiva refletir sobre o papel desempenhado pela cultura no projeto neoliberal. As análises apresentadas enfocam processos significa-tivos de aproximação da cultura e da economia a partir do Século XX. A in-dústria cultural e o advento da denominada pós-modernidade, estabeleceram bases materiais e ideológicas para a apropriação da cultura e da atividade ar-tística pelo capital. Na atualidade esse processo se intensifica e apresenta no-vas configurações a partir das políticas atuais da economia da cultura e das indústrias criativas.  
150 Sobre o papel desempenhado pela cultura no projeto neoliberal
introduces new implications from the current economy of culture and creative
industries policy.
Keywords:
Culture; Economy of Culture; Creative Industries; Neoliberal; Work.
Introdução

Atualmente vivemos um momento de singular complexidade nos domínios
da produção e da atividade artística. A arte, a produção cultural e as profissões artísticas estão sendo amplamente subordinadas aos domínios econômicos e têm se tornado cada vez mais importantes para a expansão do capital. Embora esse processo de aproximação entre produção material e não material para a ela-boração de bens culturais e artísticos na sociedade capitalista tivesse sido discuti-do com profundidade há mais de um século, hoje ele ganha novas configurações em meio às políticas neoliberais e à lógica produtivo-financeira do mercado que atinge domínios locais e transnacionais nunca antes experimentados. Nessa conjuntura, os governos, as organizações estatais e privadas, por meio de suas políticas econômicas, assumem para si o papel de articuladoras e fo-mentadoras culturais com o objetivo de lançar seus tentáculos para novos mer-cados e setores econômicos, além de simbolicamente significar/ressignificar e agregar valor às mercadorias e às suas marcas. A intensificação desse processo tende a influenciar a produção e a difusão cultural que passa a obedecer à lógica de produção e circulação de bens e a aprofundar seu distanciamento de outras possíveis experiências (formativa, educacional, crítica, reflexiva, contemplativa, comunicacional) que, contrariamente à lógica mercantil e utilitarista, possam apontar para além das condições impostas pela imediaticidade.No Século XX configuraram-se condições expressivas para o desenvol-vimento da atual apropriação da cultura pelo capital, esse arranjo está ligado principalmente a dois processos: o surgimento da indústria cultural e do ad-vento de uma interpretação das mudanças ocorridas, a que se deu o nome de
pós-modernidade
. O início do Século XX foi marcado pela edificação de uma estrutura produtiva complexa relacionada à produção de bens culturais padro-nizados e em larga escala. A indústria cultural representa o advento da aproxi-mação dos domínios culturais e econômicos sob os moldes da grande indústria moderna e sua lógica econômico-produtiva está aliada à forma ideológica de reprodução social (Crocco, 2009). Por outro lado, na segunda metade do século a ideia da pós-modernidade avança diante da crise estrutural do capitalismo enquanto amplo processo de reformulação das formas de dominação social. A  luta da classe trabalhadora, as mobilizações juvenis e as amplas contestações do fim da década de 60 foram apropriadas pelo sistema e reestruturaram produ-tiva e ideologicamente o capitalismo. A pós-modernidade tornou-se expressão fundamental de um falso mundo novo e reestruturado, pois, diferentemente de suas prerrogativas, as mudanças nos domínios culturais não representaram a alteração da lógica exploratória do capitalismo, muito menos de uma transfor-mação estrutural.Diferentemente da perspectiva ideológica de novidade do sistema, no fim do Século XX e início do XXI o capitalismo se expande de forma intensiva para todos os domínios da vida e, nesse sentido, apropria-se da cultura enquanto campo privilegiado para sua atuação. Esse processo pode ser analisado a partir das prerrogativas de novos conceitos como economia da cultura e indústrias criativas que fomentam a elaboração de políticas públicas focadas na cultura, na arte e no trabalho artístico 

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