Em 1960, o jovem Robert Zimmerman — que começara a se chamar “Bob Dylan” — viajou das planícies geladas de Minnesota para Nova Jersey em peregrinação. Seu destino: a cabeceira de seu ídolo doente, o lendário herói folk, Woody Guthrie. Ele era obcecado por Woody, ou melhor, pela figura mítica que Guthrie criou em suas memórias, Bound for Glory [Rumo à Glória]. O livro retratava Guthrie como um trovador folk que viajava de trem e cantava para acampamentos de mendigos, sindicatos e bares, munido apenas de um violão e uma gaita. O biógrafo Clinton Heylin descreveu Dylan nessa época como estando totalmente imerso em sua “fase Guthrie”.

Um Completo Desconhecido, inspirado em Dylan Goes Electric! [Dylan Fica Elétrico!], de Elijah Wald, trouxe Dylan de volta aos holofotes. No entanto, a representação de sua história encobre um fato histórico fundamental: tanto Pete Seeger quanto Woody Guthrie — figuras centrais na carreira de Dylan e na narrativa do filme — eram comunistas. Considerando os limites do que um filme pode retratar, vale a pena revisitar o período anterior a Um Completo Desconhecido para ver o que moldou as primeiras influências de Dylan.

Quando Seeger e Guthrie cantaram por suas vidas

“Não tenho certeza se esses caras vão tentar interromper esta reunião ou não”, confessou Robert Wood a Pete Seeger e Woody Guthrie, com os olhos fixos na fileira de homens enfileirados no fundo do salão do sindicato. Era 1940, e a greve da Refinaria Mid-Continent se arrastava há mais de um ano, com sua violência se manifestando em atentados a bomba, tiroteios e até ataques com ácido. Naquele dia, o salão continha sessenta trabalhadores exaustos e suas famílias, amontoados sob o olhar severo dos homens no fundo — cuja lealdade, fosse à polícia, à Guarda Nacional ou à companhia petrolífera, permanecia uma incógnita.

Seeger e Guthrie haviam se conhecido recentemente, mas quando Guthrie convidou o jovem músico para uma viagem de carro ao Texas, Seeger aproveitou a oportunidade. Ambos compartilhavam a crença de que o socialismo e a música folk estavam interligados, que seus objetivos revolucionários eram melhor expressos por meio da autenticidade da música folk. Seeger afirmou mais tarde, em uma carta selada de 1956 para seus netos, que “ser comunista me ajudou, acredito, a ser um cantor e folclorista melhor, e um cidadão mais altruísta”.

O que aconteceu naquela viagem é lendário. Eles tocaram música em bares para arrecadar dinheiro para a gasolina, deram carona a curiosos (incluindo um homem sem pernas chamado Brooklyn Speedy) e, em mais de uma ocasião, escaparam por pouco da prisão.

Ao chegarem a Oklahoma, Woody contatou o Partido Comunista local, que enviou militantes, Robert e Ina Wood, para escoltá-los. Os Woods organizaram uma espécie de mini-turnê, levando-os a cantar para os moradores pobres de Hooverville, para a Aliança dos Trabalhadores Desempregados e para os petroleiros em greve. Foi o início de uma amizade e colaboração para toda a vida — mas, na época, não estava claro se essa parada terminaria na prisão deles ou em algo muito pior.

Naquela noite, no salão do sindicato, enquanto a tensão ameaçava explodir, Robert Wood teve uma ideia original para acalmar a situação. “Vejam se conseguem fazer a galera toda cantar”, instruiu Guthrie e Seeger.

“Como artistas, eles buscavam incorporar a visão do escritor comunista Mike Gold de um ‘Shakespeare de macacão’ — uma voz cultural para as lutas sociais da época.”

Nenhum dos dois estava totalmente confiante de que poderiam desempenhar o papel de pacificadores. Seeger, com apenas 22 anos, ainda era mais um fã do que um colaborador do então pouco conhecido, mas amplamente respeitado, Woody Guthrie. Eles também eram, em muitos aspectos, opostos. Guthrie era baixo, direto, órfão e jovem, e passou seus primeiros anos pegando trens e cantando em bares. Seeger, por outro lado, era alto, de fala mansa, um desertor de Harvard que não fazia ideia de como embarcar clandestinamente em um trem. No entanto, apesar de suas diferenças, os dois compartilhavam um profundo compromisso com a música e a política, vendo a música folk como a voz das contradições dos Estados Unidos — sua beleza e tragédia, sua diversidade e lutas. Unidos em sua oposição às duras realidades do capitalismo, ambos viam no Partido Comunista a visão de uma sociedade mais justa e igualitária.

Seeger havia sido membro da Liga dos Jovens Comunistas em Harvard antes de, em suas palavras, “se formar no Partido Comunista”. Guthrie foi lançado em lutas relacionadas ao partido por meio de seu programa de rádio na Califórnia — o primeiro agente de reservas de Guthrie, Ed Robbin, foi tanto o apresentador do programa antes dele quanto editor do People’s World [Mundo Popular], o jornal do Partido Comunista na Costa Oeste. Guthrie viria a escrever uma coluna diária para o jornal, chamada “Woody Sez”. Como artistas, eles buscavam incorporar a visão do escritor comunista Mike Gold de um “Shakespeare de macacão” — uma voz cultural para as lutas sociais da época.

Naquela noite, no salão sindical, essas lutas estavam em plena exibição. Qualquer pessoa presente teria visto a mudança brusca na atmosfera quando Guthrie e Seeger sacaram seus instrumentos. Enquanto os convidados indesejados no fundo observavam a sala, todos os trabalhadores e suas famílias começaram a cantar. Mesmo que por apenas um instante, as tensões se dissiparam.

“Talvez tenha sido a presença de tantas mulheres e crianças que os desanimou”, refletiu Seeger mais tarde. “Ou talvez tenha sido a música.”

A Casa Almanac

Talvez tenha sido a música que levou, mais tarde naquele ano, Ina e Robert Wood a serem presos em sua loja, a Livraria Progressista. Eles foram condenados a dez anos de prisão por violar a Lei do Sindicalismo Criminal. Era ilegal, segundo a lei, vender livros que defendessem o sindicalismo criminoso ou a sabotagem. Entre os títulos supostamente subversivos em questão estavam obras como a Constituição dos EUA, a Bíblia e a biografia de Benjamin Franklin, escrita por Carl Van Doren.

O pânico vermelho de Oklahoma, em 1940, inaugurou uma lista estadual de suspeitos de serem comunistas, forçando outra musicista radical de Oklahoma, Agnes “Sis” Cunningham, a fugir para Nova York. Integrante do grupo teatral de esquerda Red Dust Players, Cunningham chamou a atenção do FBI, que a descreveu como “muito ativa com o elemento comunista”.

Pete Seeger estava ocupado com papeladas quando Sis Cunningham e seu marido, Gordon Friesen, chegaram à Casa Almanac — o apartamento em Greenwich Village onde o termo “hootenanny” foi usado pela primeira vez para descrever uma apresentação folk improvisada. (Os hootenannies de domingo à noite também ajudavam a pagar o aluguel.) Seeger se levantou para dar boas-vindas animadas e os apresentou a Lee Hays, que estava absorto em transformar um par de colheres em um instrumento musical, e a um violonista de Oklahoma, de cabelos desgrenhados: Woody Guthrie. Cunningham e Friesen logo se mudaram para lá e Sis, acordeonista, tornou-se uma membra central do grupo.


Pouco depois da fatídica turnê por Oklahoma, Guthrie e Seeger uniram forças na cidade de Nova York, onde a Casa Almanac se tornou parte de uma comunidade urbana de cantores folk de esquerda. Era uma mistura de músicos, radicais e andarilhos unidos por duas coisas: música e a concepção de um mundo melhor.

Aqui, a narrativa fragmentada de Guthrie encontrou a musicalidade refinada de Seeger. Eles escreveram e interpretaram canções que capturavam as lutas das pessoas comuns, de mineiros de carvão a meeiros, lançando álbuns impregnados da linguagem da luta de classes.

Os Almanac Singers eram assumidamente políticos. Suas canções frequentemente seguiam “a linha do Partido”, alternando entre hinos antifascistas e “canções de paz” isolacionistas durante o breve período do Pacto Molotov-Ribbentrop — e retornando à luta contra os fascistas após a invasão nazista da União Soviética. Críticos descreveram essa mudança política como ingênua ou oportunista, mas para Guthrie, Seeger e seus companheiros, essas mudanças refletiam a urgência de sua época.

Como Seeger explicou posteriormente em uma entrevista de 2006, o Reino Unido e os Estados Unidos toleraram Adolf Hitler, esperando que ele atacasse a União Soviética. Joseph Stalin interrompeu seus planos ao assinar um pacto de não agressão, temporariamente derrubando essa expectativa. Os comunistas lutavam contra o fascismo há muito tempo na Espanha, Alemanha e Itália, instando a Liga das Nações a agir, mas viam a guerra como imperialista até que os nazistas invadiram a URSS. Isso transformou completamente o conflito em um ataque ao socialismo, levando Woody a dizer a Pete: “Acho que não estamos mais cantando canções de paz”.

Os Almanac Singers eram famosos — pelo menos nas páginas do Daily Worker. O colunista Mike Gold, um dos primeiros apoiadores, viu neles algo mais inspirador do que o Composers’ Collective. “No Daily Worker, éramos famosos”, disse Seeger em uma entrevista, “mas seguíamos desconhecidos em outros lugares”. Mas eles lançaram as bases para o que estava por vir.

Os primeiros músicos a serem cancelados eram comunistas

Em 1950, a música “Goodnight, Irene”, dos Weavers, era a número um nas jukeboxes. Em 1951, seus sucessos — “Tzena”, “Kisses Sweeter Than Wine” e “So Long, It’s Been Good to Know Yuh” — tocavam em toda parte. Essas músicas, arranjadas com cordas suaves, flautas e andamentos lentos, ofereciam uma versão refinada e radiofônica do folk. Nenhum grupo folk na cena musical de Nova York havia alcançado tal nível.

Mas sua fama durou pouco. Um de seus membros, Pete Seeger, foi o único músico nomeado em Red Channels, o infame livreto de 1950 que denunciava supostos laços comunistas entre figuras do mundo da cultura. Com o FBI apoiando a lista, os Weavers se tornaram o primeiro grupo musical a ser verdadeiramente “cancelado” no sentido moderno. Seus comerciais de televisão foram descartados, seus shows — incluindo um na Feira Estadual de Ohio — cancelados. (O governador de Ohio, Frank Lausche, recebeu pessoalmente documentos confidenciais do FBI diretamente de J. Edgar Hoover antes de cancelar sua apresentação, embora a decisão tenha sido tão rápida que seus nomes ainda apareceram nos programas.) A Variety observou que eles foram “o primeiro grupo cancelado em um café de Nova York por causa de supostas afiliações de esquerda”.

“Quando testemunhou perante o Comitê de Atividades Antiestadunidenses da Câmara (HUAC) em 1955, Seeger se recusou a invocar a Quinta Emenda ou a citar nomes.”

A resistência de Seeger só agravou seus problemas. Quando testemunhou perante o Comitê de Atividades Antiestadunidenses da Câmara (HUAC) em 1955, Seeger recusou-se a invocar a Quinta Emenda ou a citar nomes. Em vez disso, contestou a própria autoridade do comitê para interrogar estadunidenses sobre suas crenças, citando implicitamente a Primeira Emenda. Como resultado, foi rotulado de “testemunha hostil”. Àquela altura, a inclusão na lista negra havia limitado as carreiras dos Almanac Singers, dos Weavers e do próprio Seeger. Em 1956, foi acusado de desacato ao Congresso, juntamente com Arthur Miller e o bom amigo de Albert Einstein, Dr. Otto Nathan.

Woody Guthrie nunca alcançou o nível de fama dos Weavers — e nunca foi citado em Red Channels. Enquanto o espírito da nação era sufocado por julgamentos anticomunistas, a saúde de Woody começou a se deteriorar. Ele seguiu os passos dos pais — desenvolvendo a doença de Huntington como sua mãe e, num eco trágico do pai, se queimando acidentalmente. As queimaduras em seu braço e mão direitos os deixaram inutilizáveis. Posteriormente, ele entrou e saiu de hospitais — até que um dia, não saiu mais.

Apesar da repressão, Seeger permaneceu desafiador e recordou essa época com carinho. “Isso me motivava”, refletiu mais tarde. Sua música era vista pelo governo mais poderoso do mundo como uma arma que valia a pena desarmar.

Uma luta e uma canção

Embora Seeger tenha encontrado público mais tarde na vida, ele nunca escapou completamente da mira do anticomunismo. Acabou na lista de banimento do programa de TV Hootenanny e vilipendiado por visitar o Vietnã do Norte durante a Guerra do Vietnã — embora figuras como Johnny Cash o tenham defendido, chamando-o de “um dos melhores estadunidenses e patriotas que já conheci”. Ele também se posicionou ao lado da onda mais jovem de cantores folk que se dirigiram ao Sul para apoiar as ações pelos direitos civis que ocorreram ao longo da década de 1960.

A história deles é mais do que uma nota de rodapé na vida de Bob Dylan. O autor de Dylan Goes Electric!, Elijah Wald, escreveu em uma publicação no Facebook já apagada que Um Completo Desconhecido “ignora tanto o humor quanto o compromisso político daquela época”. O legado de Dylan é complexo, e minimizar as maiores influências do início de sua carreira não o ajuda em nada.

A música folk, para Woody Guthrie e Pete Seeger, nunca foi apenas música — era memória, resistência e um lembrete de que, mesmo nos momentos mais difíceis, as canções mais simples ainda podem carregar o peso de um mundo melhor. Escrevendo sobre Guthrie, Mike Gold levantou uma questão: “Para onde estamos indo todos nós que apostamos nossas vidas em democracias? Quem pode dizer?” Ele encontrou a resposta nas canções “duras e dolorosas” de Guthrie — canções que “cheiravam a pobreza, sujeira genuína e sofrimento”. “A democracia é assim”, escreveu ele, “e é uma luta e uma canção”.

Talvez seja hora de uma nova “fase Guthrie” — pegar nossas máquinas contra o fascismo, como os cantores folk comunistas fizeram um dia, e ousar imaginar um novo mundo.

Sobre os autores

Taylor Dorrell

é um escritor e fotógrafo baseado em Columbus, Ohio. É escritor colaborador da Cleveland Review of Books, repórter da Columbus Free Press e fotógrafo freelancer.