quarta-feira, 27 de abril de 2016

Spleen

Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos errantes
Que a chorrar e a carpir se arrastam pelo mundo;

Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães
Obtido em Wikisource
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terça-feira, 19 de abril de 2016

MÁRCIA TIBURI

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Márcia Tiburi
Escritora
Márcia Angelita Tiburi é uma artista plástica, professora de Filosofia e escritora brasileira. Graduada em filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e em artes plásticas, pela ... Wikipédia
Nascimento: 6 de abril de 1970 (46 anos), Vacaria
Filosofia brincante (2010)
Filosofia brincante

Adios Nonino - Astor Piazzolla

segunda-feira, 18 de abril de 2016



As Mães

Quando pões teus olhos nos meus, mãe,
Quanto amor no teu olhar!
Como um rio manso que abre seu leito
Para nos teus abraços eu navegar!

As mães são clareiras, abrigos,
Quando nos perdemos nos caminhos,
São bússolas e rotas nos mapas,
São beijos, promessas, carinhos.
As mães tecem sedas e laços
Que prendem os sonhos maus.
Acendem fogueiras nas florestas
Que guiam os nossos passos.

As mãos das mães são casulos e teias
Pássaros de luz na nossa infância.

As mãos das mães são rudes
Leitos de secos rios,
Cicatrizes de tempos antiquíssimos,
Mãos levantadas do chão,
Para que do chão a terra parisse
A comida na mesa.
Mãos que se passeiam, rudes e firmes,
Às vezes nos cabelos das crianças
E elas sorriem sonolentas
Nas tardes mornas de Setembro.

Os olhos das mães são tristíssimos
Sopra um vento de desgraça
A dor infinita de um filho morto
Que outra dor se lhe compara?
Nas guerras eu vi mães tropeçando em cadáveres
Em busca dos filhos desaparecidos.
Que outra dor se lhe compara?

As mães escutam os apelos
Dos mil ardis do Mercado,
Espectros, bruxas e fétiches
Que assobiam melodias
Nos ouvidos das crianças.
E as mães consolam os choros repetidos,
Sucumbem desfalecidas de amor,
Elas mesmas presas fáceis dos encantos.
As mães são crianças grandes
Que brincam nos supermercados.

Os braços das mães carregam os males do mundo
Pontos de intercessão das desgraças.
Nos seus olhos o segredo da vida.
Minha mãe diz-me o porquê
Do mundo sangrar desta ferida.
Diz-me, minha mãe ausente,
O porquê desta ferida.

NOZES PIRES
27/02/2016