quarta-feira, 22 de maio de 2019

Poeta de canções, dramaturgo e romancista: Chico Buarque é mais do que Bob Dylan

Escritor foi o último a saber que ganhou o Prémio Camões por estar em Paris, onde tem residência, para comemorar o aniversário. Antes já ganhara tudo o que podia.
1 / 7
"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem" é o verso inicial de uma canção da peça Calabar - O Elogio da Traição que Chico Buarque escreveu com Ruy Guerra e subiu aos palcos em 1973. Pode dizer-se que só Calabar justificaria o Prémio Camões que Chico Buarque recebeu ontem após a escolha do júri porque reúne nessa canção - e outras como Anna de Amsterdam - a sedução capaz de pôr milhões a cantar enquanto pensam na condição humana da protagonista.
Mas Calabar não é só música porque nessa peça já estava tudo o que faz de Chico Buarque um dos maiores criadores da língua portuguesa, a razão pela qual Portugal e Brasil instituíram este prémio: além de compositor musical, é poeta e escritor de letras, autor de teatro e com meia dúzia de narrativas de ficção de fôlego.
A escolha de Chico Buarque implode pela primeira vez com a norma de atribuir o Camões a "especialistas" do clube da literatura, ficcionistas e poetas, uma orientação que vem desde a primeira escolha, Miguel Torga (1989), passou por Jorge Amado (1994), e no ano passado calhou a Germano Almeida.
Decerto que o nome de Chico Buarque não surgiu por acaso na lista de autores lusófonos que estão na calha todos os anos para este prémio, afinal a atribuição do Prémio Nobel a Bob Dylan gerou imensas especulações e o nome do brasileiro serviu sempre como exemplo de que se ele fosse o escolhido pela Academia Sueca seria uma decisão certa.
Depois de Bob Dylan todas as confusões podem surgir no campo do que é realmente a literatura, colocando de um lado os que apelam aos poemas de Homero e às trovas medievais como verdadeiros antecedentes literários ou dão a mão à obra poética de Leonard Cohen enquanto obra assente em literatura. De qualquer modo a ata do júri avançou com um argumento de peso relativamente à obra de Chico Buarque: "A contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa".
Tal como o poeta/letrista/músico norte-americano, também Chico Buarque é conhecido da maioria pelo que canta. Mas ambos têm uma outra faceta, sendo que aí Chico Buarque ainda leva mais vantagem. Não escreveu apenas Calabar e não teve parceria só com Ruy Guerra, a dramaturgia do brasileiro tinha gerado antes a peça Roda Viva e depois Gota d"Água, A Ópera do Malandro e O Grande Circo Místico.
Nos últimos anos, depois de em 1970 ter publicado Chapeuzinho Amarelo, em 1974 a novela Fazenda Modelo, tornou-se escritor de verdade com um romance inesperado, Estorvo (1991), seguido de Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite Derramado (2009) e o mais recente, O Irmão Alemão (2015). Nem sempre conseguiu escapar às críticas de ter a vida facilitada por ser famoso mas a obra vai confirmando que não é apenas capaz de escrever canções. Prova disso é ter recebido já três Prémio Jabuti, o mais importante do seu país, entre muitos outros.
Pelo meio escreveu centenas de poemas a que por facilidade se dá o nome de letras de canções, mesmo que sejam muito mais do que esse suporte para cantar acompanhado com o violão, como ainda recentemente fez ao passar pelo Coliseu de Lisboa e Porto durante várias noites e foi secundado por milhares de vozes como se estivessem a declamar o Mar Salgado de Fernando Pessoa.
A atribuição do Prémio Camões a um letrista é inédito, mesmo que um dos poetas mais populares galardoado anteriormente, Ferreira Gullar (2010), também tivesse sido musicado pelo cantor cearense Fagner. Até Jorge Amado viu versos seus serem canções, o próprio António Lobo Antunes (2007) teve aquilo que chamava de "umas letrinhas" escritas em almoços sobre as toalhas de papel transformadas num disco inteiro de Vitorino e a poesia de Saramago (1995) também foi cantada. Ou seja, podem-se sossegar as consciências, o bicho da letra de canção nunca esteve fora da verdadeira literatura.
Entre o júri que deu o Camões por unanimidade a Chico Buarque estava o escritor e compositor Antonio Cicero, que deu o exemplo da canção Construção como um poema "raro de se fazer". Ele e os outros membros do júri não demoraram muito tempo a conjugarem as suas preferências e em duas horas Chico Buarque estava escolhido.

Reação a Bolsonaro

Quanto à decisão do júri, que deve ser muito menos contestada do que a da Academia Sueca pelos lugares onde a lusofonia impera, os grandes detratores estarão no próprio Brasil que elegeu Bolsonaro recentemente. Aliás, notou-se alguma parcimónia nos foguetes que o anúncio costuma merecer no Brasil na imprensa. A razão também poderia ter sido a surpresa, afinal os académicos gostam de escolher entre os seus e não alguém tão de fora.
No entanto, Chico Buarque faz parte da metade do povo brasileiro que é contra o governante populista que ocupa o Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, alem de ser apoiante de Lula e do PT. Situação que parece estar a tornar-se numa tradição, pois os mais recentes premiados brasileiros com o Camões são do contra. Também Raduan Nassar (2016) contestava a manobra de impeachment de Dilma e saiu do seu retiro no interior de São Paulo ao fim de vinte anos para apoiar publicamente a ex-Presidente.
Não esquecer que o sucesso de Chico Buarque enquanto artista e compositor começou durante a ditadura militar, um regime que só terminou nos anos 1980, tendo sido obrigado a exilar-se, a gravar discos que a polícia política censurava - como a palavra sífilis no Fado Tropical - e só passou a compor livremente já a sua carreira ia longa. Feijoada Completa foi o primeiro disco em que pôde lançar sem penalização da censura. Mesmo assim quando a abertura política já estava a ser ensaiada, Chico Buarque esteve para ficar ligado a um atentado durante o espetáculo do 1. De Maio do RioCentro que organizou mas a bomba explodiu antes do tempo no exterior do pavilhão.
Exemplo de algum distanciamento posterior da política encontra-se em vários discos, desde o último Caravanas até a um dos seus melhores trabalhos de anos mais recentes, o tema Morro Dois Irmãos.
Quem for reler a peça Calabar vai rever os tempos atuais no Brasil, substituídos que foram os ocupantes portugueses e holandeses por uma estrutura política que continua a fazer o "elogio da traição", o subtítulo da peça Calabar. Talvez se questione sobre a atualidade dos versos de uma outra canção da peça e considere que este Prémio Camões acertou mesmo no escritor/poeta/compositor que o júri escolheu: "Não existe pecado do lado de baixo do Equador.
in Diário de Notícias, Portugal

sábado, 18 de maio de 2019

Giovanni Segantini

Resultado de imagem para giovanni segantini
Resultado de imagem para giovanni segantini
Resultado de imagem para giovanni segantini
Resultado de imagem para giovanni segantini
Resultado de imagem para giovanni segantini
Resultado de imagem para giovanni segantini
Resultado de imagem para giovanni segantini
Resultado de imagem para giovanni segantini
 
Giovanni Segantini
Pintor

Descrição

Traduzido de inglês-Giovanni Segantini foi um pintor italiano conhecido por suas grandes paisagens pastorais dos Alpes. Ele foi um dos artistas mais famosos da Europa no final do século 19, e suas pinturas foram coletadas pelos principais museus. Wikipedia (inglês)
 



quarta-feira, 1 de maio de 2019

Erotismo anima corpos de homens e mulheres numa exposição de Júlio Pomar

Corpos de homens e mulheres surgem animados pela sexualidade e erotismo nas telas e desenhos da nova exposição de Júlio Pomar (1926---2018), cuja obra foi atravessada por estas formas, "que amava por se tornarem outras", quando pintava.

Erotismo anima corpos de homens e mulheres numa exposição de Júlio Pomar