domingo, 12 de outubro de 2014


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Fala também tu,/ fala em último lugar,/ diz a tua sentença./ / Fala —/ Mas não separes o Não do Sim./ Dá à tua sentença igualmente o sentido:/ dá-lhe a sombra./ / Dá-lhe sombra bastante,/ dá-lhe tant...

Coração inconstante, a quem a charneca edifica a cidade/ no meio das velas e das horas,/ tu sobes/ com os choupos até aos lagos:/ aí talha a flauta, de noite,/ o amigo do seu silêncio/ e mostra-o às ...

Na fonte dos teus olhos/ vivem os fios dos pescadores do lago da loucura./ Na fonte dos teus olhos/ o mar cumpre a sua promessa./ / Aqui, coração/ que andou entre os homens, arranco/ do corpo as vest...
Poema
Paul CelanPaul CelanAlemanha1920 // 1970Poeta
  
  
OlhosOlhos: 
brilhantes da chuva que caiu 
quando Deus me mandou beber. 

Olhos: 
ouro, que a noite me contou nas mãos, 
quando colhi urtigas 
e fiz arrepender as sombras dos Provérbios. 

Olhos: 
noite, que sobre mim resplandeceu, quando escancarei o portão 
e atravessado pelo gelo invernoso das minhas fontes 
saltei pelos lugares da eternidade. 

Paul Celan, in "Papoila e Memória" 
Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

SolidãoA solidão é como uma chuva. 
Ergue-se do mar ao encontro das noites; 
de planícies distantes e remotas 
sobe ao céu, que sempre a guarda. 
E do céu tomba sobre a cidade. 

Cai como chuva nas horas ambíguas, 
quando todas as vielas se voltam para a manhã 
e quando os corpos, que nada encontraram, 
desiludidos e tristes se separam; 
e quando aqueles que se odeiam 
têm de dormir juntos na mesma cama: 

então, a solidão vai com os rios... 

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens" 
Tradução de Maria João Costa Pereira