sábado, 12 de dezembro de 2015

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POEMA DO FECHO ÉCLAIR

Filipe II tinha um colar de oiro,
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivelas de oiro,
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco,
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da Terra,
foi senhor do Mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.

Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safiras, topázios,
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo,
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.

O que ele não tinha
era um fecho éclair.

António Gedeão

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

José Fonseca e Costa
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Excerto do Programa da RTP "José Fonseca e Costa. A Descoberta da Vida. Da Luz... e da Liberdade Também" com guião e entrevista de Diana Andringa. RTP, 1996.

Excerto do Programa da RTP "José Fonseca e Costa. A Descoberta da Vida. Da Luz... e da Liberdade Também" com guião e entrevista de Diana Andringa. RTP, 1996
 

sábado, 17 de outubro de 2015


O Medo

A António Cândido
“Porque há para todos nós um problema sério…
Este problema é o do medo.”
António Cândido (“Plataforma de uma geração”).
Na verdade temos medo.
Nascemos no escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
nadamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Estou com medo de ti,
meu companheiro moreno.
De nós, de vós, e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses.
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo, e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.

Tenhamos o maior pavor.
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Disto ninguém fala se fosse futebol
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Maria João Pires venceu um dos mais importantes prémios da música clássica.   observador.pt
A pianista portuguesa Maria João Pires venceu o reputado prémio Gramophone, na categoria “Concerto”. Os prémios são considerados equivalente aos Óscares dentro da música clássica.
O prémio foi atribuído pela interpretação feita pela pianista dos concertos para piano nº 3 e nº 4 de Beethoven. O trabalho, gravado em parceria com a orquestra sinfónica da Rádio Sueca e com o maestro inglês Daniel Harding, foi editado em disco em 2014.
Os prémios Gramophone têm 12 categorias e existem desde 1977. O ano passado, o vencedor do prémio na categoria “Concerto” foi o pianista francês Jean-Efflam Bavouzet.
A pianista portuguesa está também nomeada para a categoria especial “Gravação do ano”, cujo vencedor será anunciado numa cerimónia marcada para o dia 17 de setembro, que decorrerá em Londres.
O coro da Gulbenkian foi também vencedor de um prémio Gramophone, na categoria Ópera, pela sua participação na ópera “Elektra” de Richard Strauss. Este foi o último espetáculo encenado pelo francês Patrice Chéreau (1966 – 2013) e contou com direção musical de Esa-Pekka Salonen à frente da Orquestra de Paris. Esta ópera também está nomeada para “Gravação do ano”.

sábado, 5 de setembro de 2015

Moebius reloaded

pericasAUTO-RETRATO DO QUADRINISTA, ARTISTA GRÁFICO E ILUSTRADOR JEAN GIRAUD (1938-2012)
Revolucionário, enigmático, provocador. Assim era o lendário ilustrador francês Jean Giraud, também conhecido como “Gir” e “Moebius”. Dizer que ele era um dos maiores desenhistas contemporâneos não é exagero. Na verdade, Giraud era verdadeiramente um gênio. Fazia o que queria com um lápis, caneta ou bico de pena: a versatilidade, a multiplicidade de estilos, o traço em constante mutação eram a sua marca. Difícil encontrar um cartunista que tivesse uma técnica tão apurada quanto a dele.
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Durante anos enveredou pelos quadrinhos de faroeste. Criou Les aventures de Frank et Jérémie, Fort Navajo e o mais conhecido deles, o Tenente Blueberry.Em tempos de Leone, Corbucci, Solima e Peckinpah, quando os Spaghetti Westerns faziam sucesso nas telas de cinema, sua estética suja, sombria e áspera combinava com a época e lhe angariava fãs.
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Mas Giraud ia além. Em 1963, começou a usar um novo pseudônimo, Moebius, que o tornaria ainda mais conhecido. Isso foi na revista Hara-Kiri. Em 1974, quando fundou a sensacional Métal Hurlant com o grupo de amigos autointitulado Humanoïdes Associés, sua fama se estendeu para todo o planeta.
moebius pericas hurlant
Giraud editaria a publicação visionária ao lado de nomes como Philippe Druillet e Jean-Pierre Dionnet, e teria como colaboradores Richard Corben, Jacques Tardi, Vaughn Bode, Serge Clerc, Milo Manara e Enki Bilal, entre outros. Com Stan Lee, entre 1988 e 1989, faria duas edições de uma minissérie do Surfista Prateado para a Marvel, depois unidas em Silver Surfer: Parable. Com estaGraphic Novel, ganhou o Eisner Award de melhor “finite/limited series”. Este, apenas um dos muitos prêmios que colecionou ao longo da vida.
moebius pericas capasmoebius pericas surfer
Mas ele não parou por aí. O mundo do cinema o admirava e o procurava constantemente. Fellini adorava seu trabalho. E também Ridley Scott e Luc Besson. Giraud se tornaria, assim, colaborador de diversas Story Boards, sendo o responsável pelo Concept Design dos filmes Alien, Tron, O quinto elemento eThe Abyss.
moebius blade
Como Moebius criou um universo surreal. “Já que o mundo vaga para o delírio, devemos adotar um ponto de vista delirante”… “Estou ausente das muitas versões do cosmos onde você está presente”… “A arte é uma grande porta, mas a vida real tem muitas portinhas que você deve passar para criar algo novo”… Moebius! E então, Arzach, Le garage hermétique, L’Incal. Histórias muitas vezes sem narrativa clara, não-lineares, baseadas em imagens estranhas, fantasmagóricas, oníricas. De quadros carregados de conteúdo erótico até cenários escapistas, fantásticos, etéreos e mágicos, Moebius conduzia o público a dimensões nunca antes exploradas. Suas HQs parecem levar os leitores a um transe hipnótico.
moebius pericas fazarch
Na verdade, tudo o que fazia era “arte”. Mas uma arte difícil de classificar, que misturava o modernismo, o nouveau realisme e o surrealismo, com fortes influências do pop, da ficção científica, do cinema, da contracultura, do rock’n’roll e das drogas alucinógenas. Enfim, um artista completo, iconoclasta, rebelde, que se dedicou durante cinquenta anos a refinar e sofisticar as bandes dessinés, elevando-as a um novo patamar conceitual. E fazendo com que suas produções tivessem uma qualidade estética difícil de se equiparar. Por isso, foi e continuará sendo um dos mais influentes e emblemáticos ilustradores de todos os tempos.
moebius jean
Gostou? Leia também “Surfista prateado“, sobre o quadrinho americano dos anos 60, “A rebeldia de Octobriana“, sobre a incrível personagem soviética de HQs e “O mundo louco de Basil Wolverton“, na coluna de Luiz Bernardo Pericás, no Blog da Boitempo!

Cinco anos depois de Liberdade, Jonathan Franzen edita o novo romance Purity

Em Setembro de 2015 o "grande romancista americano" regressa com mais uma história familiar - mas com hackers e ecos de Dickens. A edição portuguesa será publicada pela D.Quixote logo após o lançamento nos EUA.
Jonathan Franzen GREG MARTIN
Depois de LiberdadePurity. A chegada do novo romance de Jonathan Franzen está agendada para Setembro de 2015, anunciou a editora do “grande romancista norte-americano” de 2010 ao New York Times. Uma família, várias gerações, diferentes continentes e um novo tom para o escritor – o da fábula.
O sucessor de Liberdade, lançado cinco anos depois do romance que deu acapa da revista Time a Franzen em Agosto de 2010 com o epíteto “grande romancista norte-americano”, será então um épico familiar americano que atravessa décadas. O título foca-se na personagem central, Purity Tyler, também conhecida pelo diminutivo Pip (facilmente associável à personagem homónima de Charles Dickens em Grandes Esperanças), que procura identificar o seu pai e que se relaciona com um hacker activista e carismático (que alguns já se apressaram a equiparar a Edward Snowden). Parte assim numa viagem que leva o leitor dos EUA contemporâneos à Alemanha de Leste antes da queda do Muro e à América do Sul, detalha ainda o diário The New York Times com base nas palavras de Jonathan Galassi, presidente da editora Farrar, Straus & Giroux, que representa Franzen.
A D. Quixote confirmou ao PÚBLICO que vai editar Purity logo após o lançamento nos EUA, dependendo o timing apenas da tradução.
Acompanhar várias gerações de uma família é o recheio habitual da prosa de Jonathan Franzen, finalista do Pulitzer de ficção e vencedor do National Book Award de 2001 – fê-lo com os Berglund em Liberdade e com os Lambert emCorrecçõesAo PÚBLICO, numa entrevista em 2011, Franzen explicava o seu foco nas famílias, mas também nas longas durações: "O que me faz regressar às famílias nos meus romances é principalmente o acidente de ter crescido como o filho mais novo numa família de personalidades fortes, que eram ao mesmo tempo muito carinhosas e muito conflituosas entre si. Aprendi desde muito cedo a observar discussões de perspectivas diferentes, a interiorizar esses conflitos, e a procurar histórias que pudessem sintetizá-los e dar-lhes algum sentido."
Mas Jonathan Galassi precisou segunda-feira ao diário norte-americano que, se as temáticas sobre a parentalidade ou o amor se manterão na obra do escritor, o seu tom e estilo mudaram. Ao contrário dos seus romances mais conhecidos, que venderam mais de um milhão de exemplares em todo o mundo, Purity terám garantiu o editor, “uma espécie de qualidade fabulista. Não é realismo estrito. Há uma espécie de tom mítico na história”. E como disse o próprio Jonathan Franzen à revista Portland Monthly em Dezembro de 2012, será mais uma longa leitura. “Já abandonei a ilusão de que sou um escritor de romances de 150 páginas. Preciso de espaço”, sublinhou, acrescentando que “para o bem e para o mal, um ponto de vista nunca parece” bastar-lhe.  
Purity está na forja há dois anos, segundo o editor e o escritor, e é o primeiro romance de Franzen desde o fenómeno Liberdade (2010, edição portuguesa D. Quixote de 2011). Os antecessores deste sucesso de vendas e de críticaforam Correcções (2001, edição portuguesa D. Quixote de 2003) e A Zona de Desconforto – Uma História Pessoal (2006), este último um livro de memórias de um escritor com 47 anos (editado em Portugal em 2012 pela D. Quixote). Agora Franzen prepara-se para, aos 56 anos, ter uma biografia escrita por um perito em incontornáveis da literatura como William Faulkner, Marcel Proust ou Franz Kafka.
Uma biografia
Jonathan Franzen: The Comedy of Rage é uma espécie de biografia escrita por Philip Weinstein, professor de Língua Inglesa na Universidade de Swarthmore – onde Franzen estudou - e que contou com a colaboração do autor biografado. De acordo com o site Publishers Lunch, o livro a editar pela Bloomsbury explorará “as metamorfoses de Franzen como pessoa e como escritor – da sua infância ultra-sensível até aos seus anos em Swarthmore, o seu casamento atribulado e a sua auto-reavaliação tumultuosa durante os anos 1990, até à sua chegada ao mainstream da cena cultural como um ícone literário”.
Ainda assim, Weinstein é o primeiro a dizer (numa entrevista ao New York Times, em Setembro) que o livro “não finge ser uma biografia em grande-escala. É demasiado cedo para isso”, admitiu sobre o timing – “ele está totalmente em modo carreira” ainda, ressalvou. “É um relatório sobre quem ele é.”
A “auto-reavaliação tumultuosa durante os anos 1990” coincide com os seus dois primeiros romances, os menos celebrados The Twenty-Seventh City(1988) e Strong Motion (1992), ambos sem edição portuguesa. Além da sua actividade como colaborador da revista New Yorker e como tradutor, Franzen assina dois outros tomos de não-ficção, as colectâneas de ensaio How to Be Alone (2002) e Farther Away (2012).

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

ana_hatherly3
(1929-2015)

Falo do que é físico
Falo do que é físico porque não tenho outra realidade.
Falo do corpo
do mundo
do que ainda não sabemos e chamamos divino.

Falo do que é físico
porque tudo o que é real tem corpo e ocupa espaço.

Falo disso.
Falo do que existe
e tudo é tanto que nunca chega o tempo
nunca chega o fôlego.

Vejo até à asfixia
gente, coisas, o invisível.

Tudo me faz estar em permanente frêmito
sair para a rua de noite
e andar até cair de cansaço.
Pensando em tudo isso
extremamente sobreposto
como se uma grande dor não anulasse outra
como se fosse possível
pensar em mais de uma coisa de uma só vez
sentindo o simultâneo impossível
querendo abranger
a incontrolável voracidade dentro de tudo.

Corro por mim fora
como um grande atleta
campeão de barreiras e distâncias invencíveis
tentando vencer
mas tudo é enorme e intrincado
tudo em mim são olhos vigilantes
sem jamais pálpebra.

Mas tudo isso não chega.
Tudo é enorme
e morro tão depressa.
aNA HATHERLY

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Resultado de imagem para o leão de Palmira
O Leão de Palmira
"É a estátua mais importante que o Estado Islâmico (EI) destruiu até ao momento na Síria pelas suas dimensões e valor", explicou, em declarações ao telefone, indicando que a peça em causa foi destruída há uma semana.

A peça, do século I AC, não sofreu qualquer dano durante os mais de quatro anos de guerra na Síria, porque as autoridades a protegeram com um placa de ferro e sacos de areia, o que, porém, não foi suficiente para a salvar das mãos dos jiadistas.
Abdelkarim, que recebe informação sobre a situação no terreno através de testemunhos, assinalou que, de momento, nada indica que a parte arqueológica de Palmira tenha sofrido danos.
Por outro lado, apontou que oito estátuas de homens e mulheres, procedentes da antiga Palmira, em Manbech, um bastião do EI na província de Aleppo, foram destruídas pelos extremistas, esta sexta-feira.
Na semana passada, combatentes do grupo extremista destruíram dois antigos mausoléus muçulmanos na cidade história síria de Palmira, classificada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como Património Mundial da Humanidade em 1980.