quinta-feira, 18 de agosto de 2011

David Mourão Ferreira

Ternura


Desvio dos teus ombros o lençol,



que é feito de ternura amarrotada,


da frescura que vem depois do sol,


quando depois do sol não vem mais nada...






Olho a roupa no chão: que tempestade!


Há restos de ternura pelo meio,


como vultos perdidos na cidade


onde uma tempestade sobreveio...






Começas a vestir-te, lentamente,


e é ternura também que vou vestindo,


para enfrentar lá fora aquela gente


que da nossa ternura anda sorrindo...






Mas ninguém sonha a pressa com que nós


a despimos assim que estamos sós!





David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"


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