in blogue A Viagem Dos Argonautas
CARLOS PATRÃO – o filme “AINDA ESTOU AQUI”, de WALTER SALLES
Fui ontem ao Cinema para ver o aclamado e premiado Ainda Estou Aqui, do laureado Walter Salles, que já nos tinha brindado com Central do Brasil e Diários de Motocicleta. Grande filme, com uma pungente actuação de Fernanda Torres, no papel de uma viúva que procura saber do paradeiro e da verdade do que sucedeu ao marido (um antigo deputado do Partido Trabalhista Brasileiro) raptado nas suas barbas, em casa, em 1971, por um comando militar. Uma vida de luta que só alcança alguma justiça em 1996, já depois da Ditadura militar, quando finalmente o Estado brasileiro emite a certidão de óbito.
Para além da teia dramática e das brilhantes actuações o filme prima por uma fotografia com efeito retro que nos transporta magicamente para os anos 70 do século XX, uma época mítica, de grande esperança, esmagada por ditaduras e/ou pelo neo-liberalismo, ainda hoje vigente, em alguns casos como no Chile, por ambos.
A ditadura brasileira, uma das mais longas e repressivas da América do Sul, durou mais de 20 anos (64-85), em Portugal é secundarizada, talvez pelos laços que nos ligam ao Brasil, talvez porque tinha uma junta militar em que os ditadores se revezavam e é mais difícil personificar, ao contrário do Paraguai, Chile e Argentina, em que as associamos os caudilhos, Stroessner, Pinochet e Videla. Mas matou e torturou tanto ou mais que as outras, tendo funcionado como uma referência em toda a América latina, aluna aplicada da sinistra Escola das Américas, que os EUA mantiveram em funcionamento entre 46-84 no Panamá (sempre o Panamá) para exportarem a contra revolução.
O filme retrata bem os chamados anos de chumbo no Brasil, com os seus raptos, tortura, assassinatos e desaparecimentos, que vão de 1969 a 1974 e coincidem com a presidência do general Emílio Médici.
Carlos Patrão
PS:
Apesar da tentativa de boicote ao filme pela extrema direita Bolsonarista no Brasil, o mesmo está a ter um enorme sucesso, quer no Brasil, quer na Europa, e em Portugal. Ontem para o ver fiz uma primeira tentativa no Nimas, cuja sessão estava esgotada, e tive que me dirigir ao City Alvalade a onde lá consegui arranjar dois bilhetes no canto da sala.
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