terça-feira, 14 de setembro de 2021

 

Todas as cores- 1- Verde

 

Associo ao verde a vida e a morte. Eu explico. A vida é clorofila, as primogénitas algas verdes, a gritaria verde na primavera no meu quintal, a superfície verde das águas da baía da antiga Lourenço Marques que eu percorria num barquito de três metros por metro e meio feito de tábuas euma grand elona roubada a uma carrinha volkswagen dos anos sessenta em plena rua à meia noite - diabruras dos quinze anos que nunca ensinei aos meus filhos -, as mangas verdes comidas com sal nos grandes logradouros das casas coloniais, os grandes gafanhotos verdes que fugiam com saltos olímpicos apenas quando me aproximava um palmo  olhavam fixa e tranquilamente, à espera que eu me aproximasse, julgando-me muito astuto, e lá iam eles pelos ares fora rindo à socapa (porque os bichos pequenos também riem!), e aquele verde nos olhos ardentes de Garcia Lorca, «

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas le están mirando
y ella no puede mirarlas.

              ...........................................

              Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche su puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos,
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.

Ou aqueles «

Verdes são os campos,
Da cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração., do Zeca...
Pois bem, ou pois mal : apesar dessa associação entre vida e verdura, está aí a morte. Está inclusivamente em poemas como estes. Em Garcia Lorca. Na tragédia que se anuncia, na tragédia que sucede fatalmente. Lei da vida, lei da morte. Morte que é vida, vida que é morte. Sabeis isso, não é verdade? «A las cinco de la tarde. Eram las cinco en punto de la tarde». Hora infalível. Como na história do árabe que encontrou a Senhora precisamente na cidade para onde dela fugira...A folha que cai da minha macieira fecunda e que foi verde e agora é amarela, silenciosa, discreta, esquecida como um marginal, um fracassado, um expropriado da vida, aqueles corpos verdes e inchados que dão às costas da Europa, Morte que joga ao xadrez no filme de Bergman (o filme é a preto e branco, se não verdes seriam as peças do xadrês; seriam o que fossem, porque quando A vi era puto fiquei verde,  Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes(...)

Cantava o génio de Neruda para o herói da minha juventude, “bajo ventanas verdes”, sei-o bem, aprendi bem depois, é o ódio do verdugo, verde as suas sombras nas rondas das esquinas, verdes os caminhos sem luar...Ou aquelas verduras da Ofélia de Millais

E, a vida, a morte que se chama vida nos dedos artríticos de um quase cego Manet, dos Nenúfares...

  A vida que pela morte continua a sua marcha não sei para onde. Porque não sei a razão porque começou.

 

--Nozes Pires---

 

12/09/2021

 Os nenufares de Claude Monet e uma homenagem fotográfica | vicio da poesia


 

 

 

sábado, 28 de agosto de 2021

 

O Solilóquio do Rei Leopoldo, de Mark Twain, agora reeditado, é uma denúncia do genocídio promovido por um rei que tinha um quintal em África 76 vezes maior que o seu país. Um cruel monarca absoluto que explorava a riqueza e plantava sepulturas.

A denúncia dos crimes de Leopoldo II por Mark Twain, reeditada na Guerra & Paz, foi o último esforço anti-imperialista na vida do escritor. E só o ano passado, quando se assinalou o 60.º aniversário da independência do Congo Belga, o rei Filipe pediu desculpa pelos crimes do seu antepassado, expressando “o profundo arrependimento” pelas atrocidades cometidas por Leopoldo II.

Entre o ensaio e contexto histórico e biográfico António Rodrigies escreve: "Leopoldo II tornou-se soberano, proprietário e manobrador do Congo sem ter de prestar contas a ninguém. A Bélgica tinha uma monarquia constitucional, só que não era da Bélgica a colónia, mas dele próprio. Apoiado na sua legião estrangeira de sádicos, criminosos e gente sem escrúpulos para gerir a exploração no terreno; e com uma Força Pública, onde oficiais e suboficiais belgas contratados comandavam milhares de africanos do Leste e do Oeste, a impor a ordem e os trabalhos forçados com a maior das crueldades"

in jornal Público, Ípsilon, Vasco Câmara, 28/08/2021

Beuys

 https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0f/Beuys-Feldman-Gallery.jpg 

Joseph Heinrich Beuys (pron. IPA: /ˈbɔʏ̯s/; Krefeld, 12 de maio de 1921Düsseldorf, 23 de janeiro de 1986) foi um artista alemão que produziu em vários meios e técnicas, incluindo pintura, escultura, fluxus, happening, performance, vídeo e instalação. Ele é considerado um dos mais influentes artistas alemães da segunda metade do século XX.