segunda-feira, 27 de novembro de 2023

 

Eduardo Berliner, Serrote, 2009.

Por FLÁVIO R. KOTHE*

Considerações sobre a natureza e a finalidade da arte

Nunca a arte se desenvolveu tanto quanto desde que Hegel previu a sua morte. Ele precisava dela para introduzir a necessidade da filosofia da arte como a coruja de Minerva que começa a voar no anoitecer dos acontecimentos. Em nome do que se poderia supor uma agonia da arte?

Talvez de uma visão idealizada da cultura helênica, em que se supunha que todo o povo participava dos eventos artísticos. Sabe-se hoje, no entanto, que as encenações teatrais excluíam escravos, mulheres, jovens, estrangeiros: atingiam talvez 5% da população. Nunca houve um apogeu da arte. Um desfile de carnaval no Rio arrasta mais gente do que a arte grega: quer ser vistoso e bonito, mas não tem densidade artística.

Heidegger endossou a tese de Hegel, sem comprovar. Os dois queriam sugar verdades que validassem o filosofar, como se a arte existisse em função de alguma corrente filosófica. Quando Kant definiu o belo como não tendo finalidade, deixou de considerar as utilizações do estético na sociedade. Era conveniente e conivente. Priorizou, em sua tabela de categorias, a finalidade (para dizer que não havia) e deixou de lado a origem, que ficou escondida na figura do gênio, como se ele vivesse sozinho e como se as relações de poder que propiciam ou não o surgimento e a circulação de determinada obra não tivessem relevância. Embora Kant tenha sido revolucionário ao se contrapor à utilização da arte para a propaganda religiosa, política ou moralista, não examinou como a arte funciona na realidade e como a concepção do que seja arte tem marcas ideológicas profundas.

Quando o idealismo alemão, com Solger e Hegel, propôs que a obra de arte deveria transmitir uma ideia, estava inventando uma finalidade para a arte: transpor ideias. O belo não tem “uma” finalidade porque tem várias. A arquitetura sempre é feita de acordo com um programa de necessidades, ou seja, ela é sempre finalística. Nesse sentido, ela ficaria fora das artes, mas nos sistemas das artes ela sempre constou. Como arte ela se distingue quando tem algo a mais, uma ideia, uma simbologia, que a faz ser mais que mero espaço construído para atender necessidades. Exatamente aí está, porém, um problema escondido.

As obras mais imponentes costumam ser templos, palácios, fortalezas e – nos tempos modernos – sedes de grandes empresas, ou seja, aparelhos do poder. Exatamente por serem ideológicas é que são apresentados como “ideias”, como “obras de arte”, como “verdades”. Por outro lado, não é preciso ser católico para admirar a catedral de Florença ou a Sagrada Família em Barcelona ou ser ortodoxo russo para admirar a bela igreja da Praça Vermelha. Pelo contrário, quando se é crente admira-se o objeto de culto, não a obra de arte. É preciso perder a fé para ganhar a arte, admirar a obra pelo que ela é e não pelo falso que ela pretende ser.

Traduz-se para o português um conceito kantiano do belo como “finalidade sem fim”, o que induz a pensar que haveria infinitas finalidades possíveis à arte, mas a expressão “Zweckmässigkeit ohne Zweck” significa antes “adequação a objetivo sem ter objetivo”. Ora, como algo é estruturado como se tivesse funções a cumprir para acabar não tendo nenhuma? A arquitetura atende a um programa de necessidades e só a partir disso ela pode se delinear como bela. O que atende necessidades perdura enquanto não houver um meio mais adequado e econômico para atendê-las. Falar de finalidades acaba dessacralizando a arte. Enquanto a arte tiver finalidades, não vai acabar.

Ela está apenas começando a se emancipar da servidão a castas de aristocratas e sacerdotes, burgueses e oligarquias mais ou menos bem assessorados no fomento às artes. Só quando não estiverem mais a serviço da aura que faça parecer transcendental o poder que é apenas local é que ela vai se libertar e conseguir descobrir o que ela pode ser. A obra de arte foi uma escrava útil durante milênios. Só com o capitalismo ela conseguiu ser uma trabalhadora assalariada, o que ainda não é sua plena emancipação.

O que marca a compreensão da arte na filosofia é a projeção de uma teologia do que seria o homem. Toda definição tem sido um fracasso, desde supor que ele teria uma dimensão angelical, a alma, até que ele seja racional ou bom por natureza. Supõe-se que ele teria corpo e alma, daí se vê a arte como sendo coisa e ideia, coisa e alétheia, significante e significado, suporte material e objeto estético. Daí vem a filosofia e quer resgatar a parte mais nobre para o seu próprio céu. A arte deixa de valer por si, passando a somente ter validade na medida em que transmitir uma ideia e for salva pela filosofia. Daí a arte passa a valer para alimentar a filosofia com ideias e ela poderia ser substituída pela Filosofia da Arte, que é o que Hegel propôs e Heidegger endossou. Ora, a arte não é feita com a finalidade de alimentar o vampiro da filosofia.

A visão catastrófica da arte, proposta por Hegel e desmentida pela história posterior, foi propiciada pela visão kantiana de que a arte seria estruturada como se tivesse uma finalidade sem ter. É muito estranho estruturar algo como se tivesse finalidades, para acabar abdicando delas. É um divertido paradoxo. Não tendo a arte qualquer finalidade, precisaria ser salva pelo cavaleiro da filosofia, ao preço, porém, da condenação à morte de sua diferença.

Hegel e Heidegger tinham uma visão apolínea e idealizada da Grécia antiga. A arte não era lá algo de pleno domínio público. Excluídas as mulheres, as crianças, os jovens, os escravos, os periecos e estrangeiros, mal sobravam menos de 5% da população para assistir aos espetáculos teatrais. O próprio teatro grego se prejudicou com as crendices religiosas que tinha de propagar. Quando Eurípides ousou alguns temas, como a manipulação religiosa pela casta sacerdotal, a igualdade do escravo ou a liberdade da mulher, foi obrigado a fugir de Atenas para não ser morto.

O que Kant queria dizer era talvez outra coisa, por outro motivo. Como iluminista, queria livrar a arte da servidão de incensar crendices, prelados e aristocratas, mas também não a submeter aos interesses do mercado. Queria a arte como exercício da liberdade. Para isso, o artista não poderia depender das ordens de um patrão, seja ele um órgão do governo, uma autoridade eclesial ou o gosto do comprador. Difícil fugir a tantos senhores.

A arte egípcia durante três milênios repetiu sempre os mesmos padrões (desenho de perfil, olhos delineados, o tamanho da figura conforme sua relevância política ou religiosa), que permitem identificá-la, ou seja, o artista era obrigado a cumprir normas estéticas estabelecidas pelo poder eclesial. Ele não tinha liberdade, não podia inventar. Ele nem queria, pois achava certo obedecer às regras vigentes. Por exemplo, o faraó tinha de ser a figura maior (por pior que fosse sua tirania) e sempre de perfil (a exceção foi sob o faraó que aderiu ao monoteísmo, que chegou a ser apresentado em cenas familiares). Durante mais de dois mil anos seguiram-se regras assim.

Iluminista, Kant podia querer livrar o artista da servidão de exaltar a mitologia ou o mercado; como luterano, não tinha objeções a Bach nos cultos como também não à exaltação do seu déspota dileto, Frederico, dito O Grande. Era a favor do governo forte, mas constitucional; não acreditava na democracia, que seria sempre a tirania de uma parte contra o resto (como se monarquia, aristocracia ou teocracia não fizessem isso também). Nos rótulos correntes, Descartes e Kant são estampados como iluministas, embora um fosse católico e o outro luterano.

O mercado de arte, que parece ser um juiz neutro para determinar o valor das obras, mensurando-o não pelo trabalho social médio investido na produção (já que o dom artístico não está na média) e sim pelo que se está disposto a pagar por elas, flutua muito de leilão para leilão, de época para época. O que hoje é moda, pode ser menosprezado amanhã. Ele flutua também dentro de si mesmo, na mesma época e no mesmo país. Podem-se adquirir obras equivalentes por preços muito diferentes. A mesma obra que um dia foi comprada por 5 X talvez seja revendida depois de uns anos por apenas 1 X ou 50 X.

A obra continua, porém, como que idêntica a si mesma: mudando, porém, o suporte material ou/e o perfil do receptor, altera-se o objeto estético que se constitui. A obra se torna outra, muda até de categoria: pode passar de religiosa a artística ou vice-versa, de respeitável a problemática. O mercado é manipulado pela propaganda, por flutuações de gosto, por vetores não estéticos. O valor artístico deveria, no entanto, independer disso. Há uma estrutura “metafísica” subjacente, que determina uma aparência de continuidade.

A arte sacra católica perdurou por séculos, foi posta em locais de preservação e permaneceu como que intocada pelo mercado. Quando este, no entanto, se impôs, a dessacralização das obras retirou-lhes muito do preço e do apreço. Enquanto oligarquias conseguiram ser aceitas porque se acreditava que seus privilégios decorriam de origem ou vontade divina, a arte que as auratizava conseguiu ser aceita, posta em museus, precificada em galerias. Quando outras classes puderam comprar obras, mudou-se o gosto, houve uma enxurrada de -ismos.

Os pobres, que mal ganham, se ganham, o suficiente para comer, precisam atender às necessidades primárias, não podem aplicar recursos em arte. Consideram até virtude não ter arte e não buscam a arte que poderiam obter de modo gratuito. Não há garantia de que a convivência com arte torne logo as pessoas melhores.

*Flávio R. Kothe é professor titular de estética na Universidade de Brasília. Autor, entre outros livros, de Ensaios de semiótica da cultura (UnB).

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Pós-modernismo na Poesia

 

PÓS-MODERNISMO – POESIA

 

Na segunda metade do século XX, outras concepções poéticas são formuladas.  É um momento de profundo individualismo, como afirmou João Cabral de Melo Neto, o nome mais importante de um novo grupo de poetas.

 

A GERAÇÃO DE 45

A expressão geração de 45 é usada para designar um grupo de poetas que rejeitaram os “excessos” modernistas – o poema-piada, o desleixo formal, as brincadeiras poéticas – e resolveram fazer uma poesia com maior rigor formal, revalorizando o cuidado com a linguagem e propondo uma expressão poética mais disciplinada.

 

Dentre os poetas desse grupo, muitos dos quais seguiriam depois linhas diferentes, podemos citar Bueno de Rivera, Domingos Carvalho da Silva, José Paulo Moreira da Fonseca, Ledo Ivo, Geir Campos, Ferreira Gullar e João Cabral de Melo Neto.

 

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) logo se distinguiu do espírito formalista  da geração 45 pela elaboração de uma linguagem seca e objetiva, passando a trilhar um caminho bem pessoal.

 

A preocupação com o “fazer poético”, encarado como fruto do trabalho paciente e lúcido do poeta, é uma constante em sua obra, que também trata, sem derramamentos sentimentais, dos problemas sociais do Nordeste, principalmente no longo poema “Morte e vida Severina”.

 

Em 1984, enveredou pela poesia de fundo histórico com o poema “Auto do frade”, em que trata do destino trágico de frei Caneca, condenado à morte em 1825 por sua participação na Confederação do Equador.

 

Sua obra poética compõe-se de:  Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composição, O cão sem plumas, O rio, Morte e vida Severina, Uma faca só lâmina, A educação pela pedra, Museu de tudo, A escola das facas, Auto do frade, Agrestes, Crime na Calle relator.  Em prosa escreveu: Considerações sobre o poeta dormindo e Juan Miró.

 

CONCRETISMO

Dos movimentos poéticos surgidos no Pós-Modernismo, um deles provocou intensa polêmica – o Concretismo, que teve em Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari seus principais representantes.

 

Decretando o fim do verso e abolindo a sintaxe tradicional, os concretistas procuraram elaborar novas formas de comunicação poética, mais ligadas ao visual e á sonoridade das palavras.  Esse trabalho criativo de linguagem chocou os leitores acostumados à linguagem tradicional da poesia, provocando muitas polêmicas.

 

Eis um exemplo da poesia concreta:

 

 

 

A POESIA SOCIAL

Mas nem tudo foi experimentação nesse período.  Houve também poetas que se preocuparam em criar uma forma de expressão mais comunicativa, retomando a linguagem discursiva, num estilo simples e direto, para tratar do cotidiano do homem brasileiro e das injustiças sociais.

 

Dentre os autores que se definiram por essa linha, destaquemos Geir Campos, Tiago de Melo e, sobretudo, Ferreira Gullar.

 

Esse poeta maranhense iniciou sua atividade poética como concretista, mas depois rompeu com o grupo e aderiu à poesia social.

                                              

Fonte:  História da Literatura

              Editora Moderna

              Autores:  Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano

Elementos para compreender o pós-modernismo

 


Arte pós-moderna

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A arte pós-moderna ou pós-modernista é um conjunto de movimentos artísticos que buscam contradizer alguns aspectos do modernismo ou alguns aspectos que surgiram ou se desenvolveram em suas consequências. Em geral, movimentos como intermídia, arte de instalação, arte conceitual e multimídia, principalmente envolvendo o vídeo, são descritos como pós-modernos.

Existem várias características que tornam a arte pós-moderna; estes incluem bricolagem, o uso do texto com destaque como o elemento artístico central, colagem, arte abstrata, apropriação, arte performática, a reciclagem de estilos e temas passados em um contexto moderno, bem como a quebra da barreira entre o belo e alta cultural e baixa arte e cultura popular.[1][2]

Uso do termo

O termo predominante para a arte produzida desde os anos 1950 é "arte contemporânea". Nem toda arte rotulada como arte contemporânea é pós-moderna, e o termo mais amplo abrange tanto artistas que continuam a trabalhar nas tradições modernistas e modernistas tardias, quanto artistas que rejeitam o pós-modernismo por outras razões. Arthur Danto argumenta que "contemporâneo" é o termo mais amplo, e os objetos pós-modernos representam um "subsetor" do movimento contemporâneo.[3] Alguns artistas pós-modernos fizeram rupturas mais distintas com as ideias da arte moderna e não há consenso sobre o que é "moderno tardio" e o que é "pós-moderno". Ideias rejeitadas pela estética moderna foram restabelecidas. Na pintura, o pós-modernismo reintroduziu a representação.[4] Alguns críticos argumentam que muito da arte "pós-moderna" atual, o vanguardismo mais recente, ainda deve ser classificado como arte moderna.[5]

Além de descrever certas tendências da arte contemporânea, o pós-moderno também foi usado para denotar uma fase da arte moderna. Defensores do modernismo, como Clement Greenberg,[6] assim como oponentes radicais do modernismo, como Félix Guattari, que o chama de "último suspiro do modernismo",[7] adotaram essa posição. O neoconservador Hilton Kramer descreve o pós-modernismo como "uma criação do modernismo no fim de suas amarras".[8] Jean-François Lyotard, na análise de Fredric Jameson, não afirma que existe um estágio pós-moderno radicalmente diferente do período do alto modernismo; em vez disso, o descontentamento pós-moderno com este ou aquele estilo altamente modernista é parte da experimentação do alto modernismo, dando origem a novos modernismos.[9] No contexto da estética e da arte, Jean-François Lyotard é um importante filósofo do pós-modernismo.

Muitos críticos afirmam que a arte pós-moderna emerge da arte moderna. As datas sugeridas para a mudança do moderno para o pós-moderno incluem 1914 na Europa[10] e 1962[11] ou 1968[12] na América. James Elkins, comentando as discussões sobre a data exata da transição do modernismo para o pós-modernismo, compara-a à discussão na década de 1960 sobre a extensão exata do maneirismo e se ele deve começar diretamente após o Alto Renascimento ou mais tarde no século. Ele afirma que esses debates acontecem o tempo todo no que diz respeito aos movimentos e períodos artísticos, o que não quer dizer que não sejam importantes.[13] O fim do período da arte pós-moderna data do final da década de 1980, quando a palavra pós-modernismo perdeu muito de sua ressonância crítica e as práticas artísticas começaram a abordar o impacto da globalização e das novas mídias.[14]

Jean Baudrillard teve uma influência significativa na arte de inspiração pós-moderna e enfatizou as possibilidades de novas formas de criatividade.[15] O artista Peter Halley descreve suas cores day-glo como "hiperrealização da cor real" e reconhece Baudrillard como uma influência.[16] O próprio Baudrillard, desde 1984, era bastante consistente em sua visão, a arte contemporânea, e a arte pós-moderna em particular, era inferior à arte modernista do período pós-Segunda Guerra Mundial,[16] enquanto Jean-François Lyotard elogiava a pintura contemporânea e comentava sobre sua evolução da arte moderna.[17] As principais artistas feministas do século XX estão associadas à arte pós-moderna, uma vez que grande parte da articulação teórica de seu trabalho emergiu da psicanálise francesa e da teoria feminista que está fortemente relacionada à filosofia pós-moderna.[18][19]

O filósofo marxista americano Fredric Jameson argumenta que a condição de vida e produção será refletida em todas as atividades, incluindo a produção de arte.

Como acontece com todos os usos do termo pós-moderno, há críticos de sua aplicação. Kirk Varnedoe, por exemplo, afirmou que não existe pós-modernismo e que as possibilidades do modernismo ainda não se esgotaram.[20] Embora o uso do termo como uma espécie de abreviação para designar o trabalho de certas "escolas" do pós-guerra que empregam material relativamente específico e técnicas genéricas tenha se tornado convencional desde meados da década de 1980, os fundamentos teóricos do pós-modernismo como uma divisão epocal ou epistêmica ainda são muito controversos.[21]

Definições

O pós-modernismo descreve movimentos que tanto surgem quanto reagem ou rejeitam as tendências do modernismo.[22] As citações gerais para tendências específicas do modernismo são pureza formal, especificidade do meio, arte pela arte, autenticidade, universalidade, originalidade e tendência revolucionária ou reacionária, ou seja, a vanguarda. No entanto, o paradoxo é provavelmente a ideia modernista mais importante contra a qual o pós-modernismo reage. O paradoxo foi fundamental para o empreendimento modernista introduzido por Manet. As várias violações de Manet à arte representacional trouxeram à tona a suposta exclusividade mútua de realidade e representação, design e representação, abstração e realidade, e assim por diante. A incorporação do paradoxo foi altamente estimulante de Manet aos conceitualistas.

O status da vanguarda é controverso: muitas instituições argumentam que ser visionário, voltado para o futuro, inovador e progressista é crucial para a missão da arte no presente e, portanto, a arte pós-moderna contradiz o valor da "arte de nossos tempos". O pós-modernismo rejeita a noção de avanço ou progresso na arte per se e, portanto, visa derrubar o "mito da vanguarda". Rosalind Krauss foi uma das importantes enunciadoras da visão de que o vanguardismo acabou e que a nova era artística é pós-liberal e pós-progresso.[23] Griselda Pollock estudou e confrontou a vanguarda e a arte moderna em uma série de livros inovadores, revisando a arte moderna ao mesmo tempo que redefinia a arte pós-moderna.[24][25][26]

Uma característica da arte pós-moderna é sua fusão de alta e baixa cultura por meio do uso de materiais industriais e imagens da cultura pop. O uso de formas baixas de arte também fez parte da experimentação modernista, como documentado na mostra de 1990-1991 High and Low: Popular Culture and Modern Art de Kirk Varnedoe e Adam Gopnik, no Museu de Arte Moderna de Nova York,[27] uma exposição que foi universalmente criticada na época como o único evento que poderia reunir Douglas Crimp e Hilton Kramer em um coro de desprezo.[28] A arte pós-moderna é conhecida pela maneira como obscurece as distinções entre o que é percebido como arte fina ou alta e o que é geralmente visto como arte baixa ou kitsch.[29] Embora esse conceito de "confundir" ou "fundir" a arte erudita com a arte inferior tenha sido experimentado durante o modernismo, ele só foi totalmente endossado após o advento da era pós-moderna.[29] O pós-modernismo introduziu elementos de comercialismo, kitsch e uma estética camp geral dentro de seu contexto artístico; o pós-modernismo pega estilos de períodos passados, como o gótico, o renascimento e o barroco,[29] e os mistura de modo a ignorar seu uso original em seus movimentos artísticos correspondentes. Esses elementos são características comuns do que define a arte pós-moderna.

Fredric Jameson sugere que as obras pós-modernas renunciam a qualquer pretensão de espontaneidade e franqueza de expressão, fazendo uso do pastiche e da descontinuidade. Contra essa definição, Charles Harrison e Paul Wood, da Art and Language, sustentaram que o pastiche e a descontinuidade são endêmicos à arte modernista e são implantados de maneira eficaz por artistas modernos como Manet e Picasso.[30]

Uma definição compacta é que o pós-modernismo rejeita as grandes narrativas da direção artística do modernismo, erradicando as fronteiras entre as formas superiores e inferiores da arte e rompendo as convenções do gênero com colisão, colagem e fragmentação. A arte pós-moderna sustenta que todas as posturas são instáveis e insinceras e, portanto, ironia, paródia e humor são as únicas posições que a crítica ou a revisão não podem derrubar. "Pluralismo e diversidade" são outras características definidoras.[31]

Movimentos pós-modernos na arte

Arte conceitual

Lawrence Weiner, Bits & Pieces Put Together to Present a Semblance of a Whole, The Walker Art Center, Minneapolis, 2005

A arte conceitual é às vezes rotulada de pós-moderna porque está expressamente envolvida na desconstrução do que torna uma obra de arte, "arte". A arte conceitual, por ser freqüentemente projetada para confrontar, ofender ou atacar noções sustentadas por muitas das pessoas que a vêem, é considerada com particular controvérsia.

Os precursores da arte conceitual incluem o trabalho de Duchamp, 4'33" de John Cage, no qual a música é considerada "os sons do ambiente que os ouvintes ouvem enquanto é executada", e o Erased De Kooning Drawing de Rauschenberg. Muitas obras conceituais assumem a posição de que a arte é criada pelo observador que vê um objeto ou age como arte, não a partir das qualidades intrínsecas da própria obra. Assim, porque a Fonte foi exibida, era uma escultura.

Arte de instalação

Uma importante série de movimentos na arte que têm sido consistentemente descritos como pós-modernos envolveu a instalação de arte e a criação de artefatos de natureza conceitual. Um exemplo são os signos de Jenny Holzer que usam os artifícios da arte para transmitir mensagens específicas, como "Proteja-me do que eu quero". A arte de instalação tem sido importante na determinação dos espaços selecionados para museus de arte contemporânea, de forma a poder abrigar as grandes obras que são compostas por vastas colagens de objetos manufaturados e encontrados. Essas instalações e colagens costumam ser eletrificadas, com peças móveis e luzes.

São frequentemente projetadas para criar efeitos no ambiente, como a Iron Curtain, Wall of 240 Oil Barrels, Blocking Rue Visconti, Paris, June 1962 de Christo e Jeanne-Claude, que foi uma resposta poética ao Muro de Berlim construído em 1961.

Arte lowbrow

Lowbrow é um movimento de arte populista muito difundido com origens no mundo underground da comix, música punk, cultura de rua de hot rod e outras subculturas da Califórnia. Também é frequentemente conhecido pelo nome de surrealismo pop. A arte lowbrow destaca um tema central no pós-modernismo em que a distinção entre arte "alta" e "baixa" não é mais reconhecida.

Arte digital

Joseph Nechvatal: birth Of the viractual (2001), acrílico sobre tela assistido por computador-robô

Arte digital é um termo geral para uma gama de trabalhos e práticas artísticas que usam a tecnologia digital como parte essencial do processo criativo e / ou de apresentação. O impacto da tecnologia digital transformou atividades como pintura, desenho, escultura e música/arte sonora, enquanto novas formas, como net art, arte de instalação digital e realidade virtual, tornaram-se práticas artísticas reconhecidas.

Os principais teóricos e historiadores da arte neste campo incluem Christiane Paul, Frank Popper, Christine Buci-Glucksmann, Dominique Moulon, Robert C. Morgan, Roy Ascott, Catherine Perret, Margot Lovejoy, Edmond Couchot, Fred Forest e Edward A. Shanken.