domingo, 21 de março de 2010

NO DIA MUNDIAL DA POESIA

ABEL E CAIM


Raça de Abel, comes e adormeces,
Deus sorri e abastece


Raça de Caim, sempre em tormentos,
Roja-te e morre entre lamentos.


Raça de Abel, teus sacrifícios
São gozo para os anjos orifícios.


Raça de Caim, teu castigo
Não tem fim por muito antigo?


Raça de Abel, tua cultura floresce,
Teu gado sem doengas cresce.


Raça de Caim, no teu ventre
Um cão esfomeado uiva descontente.


Raça de Abel, a lareira patriarcal
Aquece-se do cocuruto ao anal.


Raça de Caim, no teu antro,
Pobre chacal, tremes de frio e espanto.


Raça de Abel, copula e reproduz-se,
Tudo lhe rende, conclui-se.


Raça de Caim, coração em brasa,
Cuidado, os grandes apetites trazem desgraça.


Raça de Abel, cresces e pastas,
Mais prolífera do que baratas.


Raça de Caim, pelos caminhos
Para repouso não terás ninho.


II


Ah! Raça de Abel, vossas tripas e mioleiras
farão um estrume de primeira.


Raça de Caim, se continuas assim,
Tua desgraça não terá fim.


Raça de Abel, morderás o pó
O ferro será quebrado numa lança só.


Raça de Caim, mais lamentos? não!
Assalta o céu e deita deus ao chão.

Charles BAUDELAIRE

AS FLORES DO MAL

1 comentário:

São disse...

Boa escolha para comemoração deste Dia especial.

Boa semana.