sábado, 14 de maio de 2011

EUGÉNIO DE ANDRADE

As palavras





São como um cristal,


as palavras.


Algumas, um punhal,


um incêndio.


Outras,


orvalho apenas.






Secretas vêm, cheias de memória.


Inseguras navegam:


barcos ou beijos,


as águas estremecem.






Desamparadas, inocentes,


leves.


Tecidas são de luz


e são a noite.


E mesmo pálidas


verdes paraísos lembram ainda.






Quem as escuta? Quem


as recolhe, assim,


cruéis, desfeitas,


nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade

1 comentário:

jrd disse...

Estas palavras não estão gastas.