domingo, 31 de janeiro de 2010

RENÉ CHAR


LAMENTO DO LAGARTO APAIXONADO


Não tires o grão do girassol,
Os teus ciprestes ficariam tristes,
Pintassilgo, retoma o teu vôo
E regressa ao teu ninho de lã.

Não és uma pedra do céu
Para que o vento te desobrigue,
Pássaro rual; o arco-íris
Reune-se no malmequer.

O homem fusila, esconde-te;
O girassol é seu cúmplice.
Só as ervas te defendem,
As ervas que no campo se enrugam.

A cobra não te reconhece,
o gafanhoto é resmungão;
Quanto à toupeira, é cega;
A borboleta não odeia ninguém.

É meio-dia, pintassilgo.
A tasneirinha a brilhar.
Demora, acabou-se o perigo:
O homem regressa à sua família!

O eco deste país é seguro.
Observo tudo, aqui do alto do muro,
Até vejo a coruja a titubear.

Quem, melhor do que um lagarto apaixonado,
Pode dizer os segredos terrestres?
Ó ligeiro e amável rei dos céus,
Por que não fazes ninho nesta minha pedra?
                                          
                                       Orgon, agosto 1947

1 comentário:

Meg disse...

Zé,

Para além do ternurento poema, brindas-nos com uma das tuas belas telas pujantes de cor.
Gostei muito.

Beijo